Toda
segunda-feira, os 40 músicos da Orquestra Experimental
Pró-Morato (OEXP) reúnem-se para ensaiar o repertório
que será apresentado nos projetos “Concerto na
Escola” e “Concerto no Bairro”. Formada
por jovens da comunidade, o projeto busca formar público
para música instrumental erudita e popular no município
de Francisco Morato (SP).
“Com o nosso projeto, mostramos como é possível
oferecer atividades culturais à população
com poucos recursos. É uma iniciativa importante para
uma região sem grandes investimentos nesta área”,
comenta o maestro da OEXP, Adriano Aragão.
A orquestra surgiu de um sonho do maestro. Aragão
era professor voluntário de música na Associação
Cultural Comunitária Pró-Morato. Nas aulas,
identificou talentos e, em 2003, com o apoio da ONG, fundou
a OEXP.
“Abraçamos a proposta. Era mais uma possibilidade
de desenvolvermos projetos artísticos locais e aprimorar
a formação musical de jovens de baixa renda
de nosso município”, explica a presidente da
Pró-Morato, Valéria Ortiz Jimenez.
De acordo com o maestro, participar de uma orquestra proporciona
ao músico crescimento técnico e de interpretação,
além de ampliação do repertório
e a oportunidade de execução em diversas formações
musicais, como banda sinfônica ou só acompanhamento
de solistas.
“É um aprendizado que não pára
nunca”, afirma a violinista Delma Costa Santana, 18
anos, há quatro anos na OEXP. A jovem aprendeu tocar
violino na igreja. Entrou na orquestra após assistir
a um dos concertos em uma feira de artesanato da cidade. Outros
jovens começaram na orquestra por esse caminho.
“Com os concertos, levamos música à população
e divulgamos nosso trabalho. Sempre somos bem recebidos nos
bairros. Há moradores que cedem suas casas para lancharmos
ou para guardamos os instrumentos”, lembra Delma.
Nas escolas, a recepção dos alunos é
positiva. Para agradar a todos, o maestro escolhe um repertório
mesclado que vai de Beethoven a Ary Barroso. Nas últimas
apresentações, o grupo privilegiou a Bossa Nova.
Valéria Jimenez calcula que mais de cinco mil pessoas
assistiram às execuções da OEXP neste
ano.
Em 2007, a Orquestra Experimental se apresentou para mais
de 850 pessoas no Teatro Polytheama, em Jundiaí (SP),
onde foi gravado um DVD. “Foi uma experiência
enriquecedora e surpreendente para nossos jovens”, descreve
Valéria.
Dificuldades
Como a orquestra é um projeto voluntário,
os músicos não recebem auxílio financeiro
e precisam deixar a atividade para gerar renda em casa. A
maioria tem entre 16 e 24 anos. “É difícil
conciliar o horário da orquestra, do trabalho e dos
estudos. Por isso, temos uma grande rotatividade. Da formação
inicial, apenas 12 continuam”, comenta Valéria.
A entidade só tem recursos para pagar o transporte
e o lanche aos jovens. Para a locomoção até
o local dos concertos, a orquestra conta com o apoio financeiro
de uma pequena empresa privada de Francisco Morato.
“Além de talentosos, os participantes da orquestra
são bastante esforçados. Enfrentam vários
obstáculos para estar aqui. Moram longe e muitos não
têm apoio da família”, fala Valéria.
Segundo a presidente da Pró-Morato, o ideal seria
poder investir mais na formação dos músicos
da orquestra, oferecendo bolsas de estudo, e também
conseguir estender o ensino musical a outros membros da comunidade.
Talita Mochiute
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