da
Redação
O filme Querô (leia resenha abaixo) será exibido
este sábado, 22, às 20h, na escola Carlos Maximiliano
Pereira dos Santos, em Pinheiros. A entrada é gratuita.
O Max, como a escola é conhecida, estava abandonada
e ameaçada de fechamento. O cenário mudou quando
um grupo de alunos e ex-alunos, pais e artistas, entre eles
a estudante Greicy Karla de Faria, se mobilizou para dar novo
ânimo ao colégio. Na escola, hoje funciona o
Teatro da Vila, ocupado pelo Grupo Satyros, que está
trabalhando arte com os alunos.
Serviço:
E.E. Carlos Maximiliano Pereira dos Santos
Sábado, 22, às 21h
Rua Jericó, 256 – Pinheiros
Telefone: 3813 8530
Resenha
O rito de passagem de Jerônimo
a Querô
Heitor Augusto
“Fazer esse garoto não foi só atuar,
foi poder contar o que acontece em cada esquina onde se encontra
um Querô abandonado, cheirando cola e roubando, e que
ninguém procura saber porque ele tá ali”.
A opinião de Maxwell Nascimento, que interpreta o protagonista
Querô, sintetiza o espírito do filme: falar do
jovem que não é visto.
A linguagem clara e dura de Plínio Marcos, que em
1976 publicou o romance Querô – Uma Reportagem
Maldita, também está no Querô do cinema.
O diretor Carlo Cortez trabalhou com jovens que não
tinham experiência anterior na dramaturgia.Essa experimentação
fez com que o processo de montagem ficasse tão intenso,
que o expectador se impressiona com o que os atores conseguem
transmitir na tela.
Em alguns momentos, tem ares de documentário, pois
versa sobre a história de um menino que representa
muitos meninos do Brasil. Aquele tipo “que só
berra da geral sem nunca influir no resultado”, diria
Plínio Marcos.
Porém, não se restringe a um retrato da realidade.
O universo infantil e conturbado de Querô vai para a
tela com uma poética rica, cores vivas que se confundem
– e que são muito diferentes do dia-a-dia cinza
do protagonista e das outras crianças do Porto de Santos,
onde a história se passa. A música é
uma das chaves para se aproximar do filme: a trilha de André
Abujamra parece se apropriar da mente dura de Querô
e a devolve em forma de sons para o público.
O menino diz adeus à infância
A interpretação de Maxwell Nascimento, que abocanhou
o prêmio de melhor ator nos festivais de cinema de Brasília,
Cuiabá e Fortaleza, indica um potencial a ser explorado.
É um personagem que tem a rigidez na vida expressa
constantemente na face. O rosto está sempre amarrado,
carrancudo, como um escudo se defendendo do que há
por vir.
A vida pegou o menino pra criar. O resultado disso é
um estrago gigantesco no universo infantil do garoto. Sobram
resquícios de Jerônimo do Nascimento, nome de
batismo. O que predomina é a essência violenta
– e violentada – de Querosene (origem do apelido
Querô, ganho porque a mãe se matou tomando o
componente químico).
Ver o garoto Jerônimo na Febem lembra outros filmes
que abordam o sistema carcerário, como Carandiru –
ou também Pixote – A Lei do Mais Fraco, de Hector
Babenco. Mas, outros paralelos são possíveis,
mesmo que sejam estrangeiros.
Michael Jackson, por exemplo, no auge da carreira, causou
estardalhaço ao ir para o morro Santa Marta gravar
“They
Don’t Care About Us” (Eles Não Ligam
Pra Gente). A versão americana do clipe se passa no
refeitório de uma prisão. A voz é dada
aos presos. “Me diga onde estão meus direitos/Sou
invisível porque você me ignora”.
Após uma sessão de Querô, essa é
uma das sensações que toma conta do espectador.
Parece mesmo que ninguém dá a mínima
para evitar que o fosso da exclusão só venha
a crescer.
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