João
Batista Jr.
Todo sábado é a mesma coisa: Carina Santos Souza,
acompanhada do marido, passa a noite no shopping Santa Cruz.
“Fui convidada para ser garçonete porque eles
não conseguiam consumir”. O “eles”
em questão são as cerca de 300 pessoas com deficiência
na fala e na escuta que fazem da praça de alimentação
do shopping um ponto de encontro aos sábados.
“Antes meus colegas não tinham como fazer pedidos
porque as pessoas não conseguem entender o que dizem.”
Carina foi contrata pela churrascaria Montana Grill, para
atender em especial a essa parcela do público. Aos
27 anos de idade e com um emprego no Unibanco de segunda à
sexta, Carina aceitou a proposta.
“Minha mãe pegou rubéola quando estava
no oitavo mês de gravidez, por isso tenho problemas
na fala”. Carina aprendeu a falar aos oito anos de idade
com a ajuda de fonoaudiólogos. “Hoje eu falo
bem.”
Comunicação
“Conheci meu marido, que não fala nada, em um
encontro do shopping Metrô Tatuapé.” Para
Carina, os encontros aos sábados são essenciais.
“Eles vêem aqui para conversar e fazer amigos.
Tem muito menino que monta aqui um time de futebol”,
comenta. ”E mesmo para contar sobre alguma nova vaga
de emprego.” Segundo ela, “o desemprego está
alto para todo mundo.”
Na praça de alimentação, vê-se
diversos grupos bebendo cerveja, tomando sorvete, namorando.
E muitos conversando por linguagem de sinais. “As outras
pessoas têm bares para cada estilo: para os roqueiros,
para os cabeludos, para os mais velhos, mas a gente une todos
em um mesmo lugar”, comenta Juliano Jukiti, 27 anos.
No caso dele, a praça de alimentação
do shopping Santa Cruz.
Operário de uma fábrica de refratários,
Juliano diz que foi em um dos encontros que conheceu sua mulher.
“Como ela não fala nada, tive de aprender a linguagem
dos sinais”. Ele passou por problema semelhante. Quando
criança, perdeu a fala porque seu tímpano estourou.
“Fiquei sem falar por cinco anos, até minha mãe
me levar a um fonoaudiólogo para eu recuperar a voz.”
“Hoje eu consigo conversar com fala e sinais”,
orgulha-se ele. Assim como muitas pessoas falam a língua
nativa e estudam um segundo idioma, Juliano se considera “bilíngüe”.
Segundo a caixa do Montana Grill Ediles Alves, a iniciativa
da franquia da rede no shopping mudou a visão dos outros
estabelecimentos. “Eles não gostavam deles, mas
agora que a gente contratou a Carina todo mundo quer servi-los”.
Em tempo
Além do Santa Cruz, os shopping Metrô
Tatuapé e Penha também são pontos de
encontro de pessoas com deficiência na fala e na audição.
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