Erika
Vieira
Estudantes africanos que chegam para estudar no Brasil encontram
dificuldades para se manter financeiramente. É o que
contam universitários da USP, provenientes de território
africano, como São Tomé e Príncipe, ilhas
que, juntas, contam com cerca de 160 mil habitantes.
Por não terem ensino superior em seu país de
origem, os jovens saem em busca de estudo em outros territórios,
como Portugal, Cuba e Brasil. São selecionados de acordo
com seus perfis e ingressam no curso escolhido ou, muitas
vezes, no qual há mais vagas disponíveis.
Segundo os próprios estudantes, um acordo é
firmado entre eles e o governo de seus países para
que uma bolsa mensal de U$500 seja dada para cada aluno, a
fim de garantir que não trabalhem no Brasil. O trato
é que o governo pague metade e a família financie
o restante. Porém, queixam-se de que as autoridades
africanas tornam-se omissas e de que o único elo que
os mantém é uma carta de responsabilidade que
cada estudante traz consigo quando parte rumo à conquista
do diploma universitário. Na carta não consta
oficialmente que a bolsa deva ser honrada, o acordo seria
na base da confiança. Em alguns casos, o Itamaraty
acaba dando uma bolsa de refugiados, mas por um período
de apenas seis meses.
Sem dinheiro e não podendo trabalhar oficialmente
por serem estrangeiros com visto temporário, começa
a se desmanchar o sonho de viver no Brasil. “Para nós
o Brasil é o que passa na novela das oito: Copacabana
e mulheres bonitas. Mas aqui nossa realidade está sendo
bem diferente”, fala Ketty –Keila Neto da Silva
Borges, africana que cursa psicologia na USP.
Moradia dentro da universidade existe, mas em número
insuficiente para atender a todos. Como é o caso do
CRUSP (Conjunto Residencial da Universidade de São
Paulo), que reserva cerca de 15% das vagas para estrangeiros
que estudam na graduação, e outros 20% para
os da pós-graduação. Porcentagem que
não é o suficiente, pois alunas como Ketty acabam
ficando sem ter onde morar. “Estou de favor na casa
de amigos, porque o dinheiro que recebo dos meus pais não
dá para pagar aluguel.”
Já Ailton Gi Jeneni Azevedo de Almeida, nascido em
São Tomé e graduando de psicologia da USP, conseguiu
alojamento no CRUSP, mas mesmo assim não tem uma vida
fácil. “Vim para o Brasil para crescer como pessoa,
mas o problema é que não consigo emprego.”
Ele conta que o salário mínimo em São
Tomé é de U$50 e com U$100, quantia que seus
pais depositam para ele, dá para passar o mês.
Agora no Brasil os gastos são maiores e, por isso,
faz falta a ajuda financeira que o governo se comprometeu
a dar. “Tento bolsa monitoria, mas tenho que concorrer
como todos os outros alunos. Dentro da universidade é
difícil trabalhar e fora também não dá
pelo visto não permitir.”
Diante dessa situação, os estudantes nutrem
apenas um desejo: “Quero muito acabar o curso e ir embora,
não dá para continuar a ficar aqui”, desabafa
Ketty.
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