O
Site Gilberto Dimenstein – Jornalismo Comunitário
dá seqüência à série
de reportagens Samba de Comunidade, que conta a história
de três rodas em diversas regiões de São
Paulo.
Esta é a segunda matéria da série. Na
última sexta-feira (24/08) abordamos o grupo que começou
se reunindo em cima da laje para tocar e hoje atrai mais de
600 pessoas da Vila Santa Catarina. Hoje, vamos contar a história
de um pessoal em que a média de idade não ultrapassa
os 25 anos, mas ao contrário do que isso possa indicar,
o tipo de música que eles gostam de tocar foi composto
há décadas atrás. É a roda de
samba Passado de Glória.
Passado presente no samba
Heitor Augusto
Alguns rostos ainda têm espinhas, traço de adolescência
que ainda persiste. Mesmo os músicos com sinais de
calvice não passam dos trinta anos. Mas, ao contrário
dos indícios, esses jovens sambistas não se
debruçam sobre os compositores de hoje. Nada contra
os novatos na estrada, mas para o pessoal do Passado de Glória,
roda de samba do Jardim Nordeste, zona leste, o que importa,
como o nome diz, é o passado.
Geraldo Filme, Paulo da Portela, Candeia, Nelson Cavaquinho,
Cartola são alguns dos compositores que os jovens do
Passado de Glória tocam. “A gente faz samba para
a gente, não importa a modinha”, explica Alessandro
de Souza Aguiar, o Bacabinha, um dos líderes da roda.
Como toda pérola, precisa ser garimpada. No caso dessa
roda de samba, o garimpo significa meia hora de trajeto do
centro da cidade de São Paulo até a Vila Nordeste,
de carro. Tem também o estoque reserva de paciência
com a falta de placas, além da dificuldade de encontrar
o Largo Jurupanã, onde rola o samba, pois não
consta em alguns guias.
O clima da roda é bem tranqüilo, muito diferente
da agitação do Samba
da Laje. A cada 15 dias, arma-se uma tenda em frente ao
bar do seu Dimas, três mesas de alumínio ficam
encostadas e os instrumentistas ao redor. Ao todo são
14 instrumentos: dois violões de seis cordas; dois
tamborins; dois pandeiros; um reco-reco; um surdo; um repique;
três cavaquinhos; uma cuíca; um agogô.
O som resultante dessa mini-orquestra é denso, completo,
preenche todos os espaços com acordes de fino trato.
Carência de cultura
“O pessoal da região está carente de cultura.
A gente quer ensinar com o samba”, acredita Bacabinha.
Para continuar ensinando e atrair a comunidade, o som tem
de ser atraente e de qualidade. Pensando em aprimorar cada
nota, o pessoal do Passado de Glória estuda como as
músicas foram interpretadas e se reúnem depois
para discutir. Sobre a cabeça de Bacabinha, pendurado
em um canto da lona, fica um MP3 que grava cada música.
A roda existe há apenas três meses. A maioria
dos integrantes toca informalmente e não sobrevive
da música – à exceção de
Tiago, um dos violonistas. O espírito que domina o
Passado de Glória é expresso pelos versos de
Candeia, estampados na camiseta oficial da trupe: “Não
basta inspiração,/ não basta fazer uma
linda canção/Pra cantar samba/Se precisa muito
mais.” A comunidade do Jardim Nordeste agradece que
o Passado de Glória se empenhe pelo “muito mais”
que Candeia cita. “O samba é periferia. Trabalhando
com samba, trabalha-se com periferia.”
Serviço:
Passado de Glória
Largo Jurupanã, em frente ao bar do seu Dimas –
Jardim Nordeste
02/09 (este domingo. O Passado de Glória tem calendário
fixo: rodas de samba quinzenais). Das 13h às 18h.
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