Um é feito em cima de uma laje. O outro não
termina enquanto a chama da vela não se apagar. Tem
também aquele em que só há jovens cantando
músicas de compositores que, antes mesmo da moçada
nascer, já haviam morrido.
Estes são três exemplos de roda de samba que
acontecem em vários pontos da cidade – especificamente,
dois na zona sul e um na leste. Todas têm calendário
fixo.
O Site Gilberto Dimenstein – Jornalismo Comunitário
vai contar, nas próximas três sextas-feiras,
um pouco de cada uma dessas rodas de samba que resgatam o
que há de melhor nas raízes de São Paulo,
Rio de Janeiro, Salvador e outras cidades.
Hoje, começamos com aquela que acontece em cima de
uma laje. É o Samba da Laje, que fez dez anos em julho.
O samba sobe à laje
Heitor Augusto
O evento começou como uma confraternização
entre família. Um sobrinho ia fazer aniversário
e, para comemorar, a família chamou os parentes que
tocavam algum instrumento para animar a festa. A rua, que
seria o lugar natural para a comemoração, é
íngreme: ficar de pé na Rua Jandi requer muito
esforço. Qual a solução encontrada? O
samba subir para a laje.
O que era uma festinha de família virou encontro da
comunidade. Os músicos, que antes tocavam informalmente,
agora têm até uniforme. Só entra na roda
quem tiver o direito de usar a camisa amarela estampada com
os dizeres "Samba da Laje".
Há dez anos, todo último domingo de cada mês,
Dona Generosa, 53, levanta às 3h da manhã. Ela
é a dona da laje onde o samba acontece. Quer dizer,
acontecia: o evento atrai tantas pessoas que a laje não
suporta mais o peso: “Estava até com medo de
a laje desabar”, confessa Dona Generosa.
Cerca de 600 moradores, em média, vão às
rodas dominicais. A média de moradores da Vila Santa
Catarina, zona sul da cidade de São Paulo, que participam
do Samba da Laje é de 600 por evento. Eles são
o motivo de Dona Generosa acordar tão cedo em dias
de roda: ela ajuda a preparar a feijoada vendida a R$ 5. São
cozidos 40 kg de arroz, 30 de feijão e 20 de farofa,
sem contar as carnes.
Aquela mesma rua íngreme que impossibilitava a roda
de samba ganhou um pequeno palco. Assim, os músicos
não correm o risco de apoiar seus instrumentos no chão
e, repentinamente, os virem rolando ladeira abaixo.
Partido alto
Na laje, o que reina é o samba de raiz. Beth Carvalho,
Fundo de Quintal, Candeia, Almir Guineto, Zeca Pagodinho.
Isso mesmo: dentro da diversidade que há no gênero
“samba de raiz”, no Samba da Laje o clima é
pra cima. Mais ou menos assim: música pra cima, latinhas
de cerveja ou refrigerante e toda a comunidade reunida –
crianças e adultos.
Lá não dá pra ficar parado, não
há cadeiras para se sentar – exceto perto da
cozinha onde a feijoada é preparada. Muitas das músicas
são marcadas na palma da mão ou com duas pequenas
madeiras que o sobrinho de Dona Generosa fica batendo para
dar a cadência acelerada e animada.
Nos dez anos de existência, o Samba da Laje ficou tão
popular que foi tema de vários ensaios fotográficos
captados pela câmera de Samuel Iavelberg – as
fotos ficam expostas perto de onde a feijoada é servida.
Dona Generosa ganhou a faixa de “Imperatriz e Baluarte
do Samba”. A turma de músicos já tocou
em diversos lugares fora do bairro.
E ainda sobra um espaço para Dona Generosa, que articulou
a comunidade em torno do samba, reclamar: “Será
que a gente não mereceria um apoio da subprefeitura?”.
Serviço
O que: Samba da Laje
Onde? Rua Jandir, s/n – Vila Santa Catarina
Quando? 26 de agosto (este domingo. O Samba da Laje tem calendário
fixo: todo último domingo do mês). Das 14h às
21h.
Contato? 5566 0345, com Dona Generosa
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