Experiências
incluem turmas sem divisão de classes e até
o fim das provas
Em escola na Vila Matilde, na zona leste de São
Paulo, um mesmo professor ensina todas as matérias
para alunos de 5ª a 8ª séries
Imagine uma escola em que alunos não recebem notas
em provas e têm liberdade para decidir qual o tema a
ser estudado. Seus professores, em vez de serem divididos
de acordo com a disciplina em que se especializaram, dão
aulas sobre todos os temas para a mesma turma.
Essas e outras práticas fogem do padrão encontrado
na maioria das escolas, mas são adotadas, em maior
ou menor grau, por instituições que tentam subverter
a ordem. Em alguns casos, são experiências novas.
Em outros, são práticas consolidadas. Para educadores
ouvidos pela Folha, é possível inovar sem prejuízo
da qualidade.
"As crianças mudaram, o mundo mudou, mas a escola
permanece a mesma. A estrutura de trabalho da maioria das
escolas é igualzinha à que eu presenciei como
aluno há 50 anos. Acho que a maioria dos educadores
está convencida de que é preciso mudar, mas
muitos não sabem como. No entanto, é possível
perceber alguns sinais de mudança", diz o vice-presidente
do Conselho Municipal de Educação de São
Paulo, Artur Costa Neto.
Na escola particular Oga Mitá, do Rio de Janeiro, por
exemplo, um dos sinais dessa mudança foi o fim das
provas. Os alunos até recebem notas, mas elas são
construídas a partir de um conjunto de objetivos traçados.
O professor acompanha o estudante e o avalia por trabalhos
individuais ou em grupos e vê quantos objetivos foram
alcançados.
A diretora Márcia Leite diz que a fórmula tem
sido bem aceita pelos pais nos 29 anos de história
da escola: "Não é treinando desde criança
que alguém vai aprender no futuro a fazer provas ou
processos seletivos. Achamos que o importante é preparar
esse estudante para saber buscar sempre o conhecimento. É
isso que dará confiança na hora da prova".
Para Leite, o desafio de escolas que tentam fugir ao padrão
é continuar ousando a partir da quinta série.
"É muito fácil encontrar escolas com projetos
inovadores até a quarta série. Nosso desafio
recente está sendo adaptar nosso projeto à realidade
da quinta à oitava."
Esse mesmo desafio está sendo enfrentado pela Emef
(Escola Municipal de Ensino Fundamental) Presidente João
Pinheiro, na Vila Matilde, zona leste de São Paulo.
De quinta a oitava séries nas escolas tradicionais
os estudantes têm vários professores para as
disciplinas. Lá, não. Os docentes têm
de ter conhecimentos para ministrar todas as disciplinas.
"Os professores ficam com um comprometimento maior, pois
têm de estudar. E isso mostra também que o conhecimento
está unificado. A escola está organizada para
trabalhar as habilidades e competências para que o estudante
possa viver bem lá fora", afirma a diretora Aparecida
Inocência dos Santos. A implantação do
projeto tem história: são 22 anos desde a mudança
de métodos.
Mais recentes são as mudanças feitas na Emef
Amorim Lima, no Butantã, zona oeste da capital. Há
três anos, a escola optou por abolir as salas de aula
da segunda até a oitava série. Apenas na primeira
série as classes foram mantidas, porque as crianças
estão em fase de alfabetização. O conteúdo
é desenvolvido por meio de grandes temas e em grupos
de estudantes. As dúvidas são tiradas pelos
tutores, que também avaliam os alunos.
Costa Neto, do Conselho Municipal de Educação,
diz que é possível manter uma linha pedagógica
inovadora mesmo no ensino médio, quando muitas escolas
passam a se preocupar mais com a preparação
para o vestibular.
"Acho preferível ter tido uma experiência
de 12 anos em que te ensinaram a pensar de forma criativa
mesmo que, por seis meses, você tenha que se bitolar
para passar no exame. A experiência desses anos será
muito mais importante para a vida do que o vestibular",
diz.
Antônio Gois
Simone Harnik
Folha de S.Paulo.
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