Marina
Rosenfeld
especial para o GD
Até 2004 apenas 110 mil casos de violência doméstica
foram notificados pelo LACRI (Laboratório de Estudos
da Criança da Universidade de São Paulo), apesar
de especialistas alegarem que, na realidade, os números
são muito superiores aos apresentados.
"Essa é apenas a ponta de um iceberg", disse
Maria Amélia Azevedo do LACRI, durante a Consulta Nacional
sobre Violência contra a Criança e o Adolescente,
entre os dias 23 e 25 de agosto, referindo-se à falta
de números mais substanciais em relação
aos diferentes tipos de violência doméstica.
Para Simone Diniz, da faculdade de saúde pública
da USP, não é só a falta de números
que preocupa, mas também a falta de debate sobre o
que fazer com os agressores, que na maioria das vezes são
do sexo masculino. "Só se vê a responsabilidade
das mulheres, não se vê a responsabilidade do
pai, nem do Estado ou então a ausência destes",
comentou.
Segundo Aparecida Gonçalves, da Secretaria de Políticas
Especiais para Mulheres (SPEM), a violência doméstica,
por acontecer dentro de casa, ainda é tida como uma
discussão privada e não como algo público.
"Só é possível enfrentar esse tipo
de violência quando for criada uma política nacional
que diga que isso crime. Precisamos também ampliar
o número de delegacias especializadas no atendimento
à mulher e fortalecer esse instrumento como meio de
responsabilizar o agressor. Isso não significa prisão,
mas também não significa impunidade".
Ainda para Aparecida, a violência doméstica
é fruto das relações de poder estabelecidos
na sociedade, seja entre homens e mulheres, negros e brancos,
crianças e adultos. "Há uma herança
patriarcal muito grande, em que a família tem um chefe
homem. Mas como podemos dizer que o chefe é o homem
se na sociedade brasileira 35% das mulheres são chefes
de família?", questionou.
Ao término da palestra "Violência Doméstica",
Amélia complementou dizendo que "vivemos numa
sociedade que é muito tolerante a esse tipo de violência".
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