Estudo
mostra que, em média, o profissional da rede estadual
se afasta aos 52 anos, idade inferior à de 11 países
Pesquisador afirma que saída
precoce sobrecarrega folha de pagamento; educadores citam
perda de experiência nas escolas
Os professores da rede estadual de São Paulo se aposentam
mais cedo do que os docentes de países desenvolvidos,
de acordo com pesquisa apresentada ontem em um seminário
na faculdade Ibmec São Paulo.
Segundo o levantamento do professores da FGV-RJ Samuel Pessôa
e Fernando de Holanda Barbosa Filho, os docentes do sistema
paulista se aposentam, em média, aos 52 anos.
O número é inferior ao dos 11 países
da OCDE (entidade que reúne os países desenvolvidos)
que possuem dados disponíveis. Noruega, França,
Itália e Holanda têm as médias de idade
mais altas (passam dos 60).
A análise da folha de pagamento da rede estadual paulista
deste ano foi feita a pedido do Ibmec, Instituto Futuro Brasil,
Fundação Lemann e Gerdau para o seminário
"Gastos com Educação - Um Reflexo da Gestão
e da Legislação".
"O Estado precisa repor os professores precocemente e
ainda pagar as aposentadorias. Não há sistema
que consiga ser solvente com esses parâmetros",
afirmou Pessôa.
O estudo mostra que a Secretaria da Educação
gasta, mensalmente, R$ 354,7 milhões com os professores
ativos e R$ 190,9 milhões com os inativos.
A despesa com os aposentados foi um dos argumentos usados
pelo governador José Serra (PSDB) para explicar o porquê
de o Estado possuir apenas o 10º melhor salário
inicial do país para docentes, conforme a Folha revelou
neste mês.
Experiência
"52 anos é cedo para se aposentar. É uma
idade que o professor tem muito a contribuir para as escolas",
disse Célio da Cunha, assessor especial da Unesco no
Brasil.
"Mas esse não é um problema só dos
professores. Em geral, aposenta-se cedo no Brasil", completou
Cunha.
Segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) apresentados em julho, os brasileiros se aposentam,
em média, aos 55 anos, número superior ao dos
docentes.
"As condições dos professores são
tão precárias que, assim que podem, se aposentam",
disse o professor da Faculdade de Educação da
USP José Augusto Dias. "Deveria haver estímulos
para que eles permanecessem trabalhando, para não perdermos
essa experiência."
O presidente da Apeoesp (sindicato dos professores da rede
estadual), Carlos Ramiro de Castro, também cita as
condições de trabalho como explicação.
"Com classe superlotada, jornada tripla, o professor
chega aos 50 anos muito desgastado", disse Castro. "Nos
outros países comparados, as condições
são melhores."
O sindicalista concorda, porém, que a média
de idade para aposentadoria na rede é baixa. "O
governo deveria criar políticas para incentivar que
esses professores permanecessem na rede, talvez diminuindo
a carga horária na sala de aula e transferindo-a para
funções de coordenação ou orientação."
A secretaria da Educação afirmou que os docentes,
a qualquer momento da carreira, podem entrar na seleção
para professores-coordenadores.
A pasta disse ainda que não há projeto para
tentar estender a permanência do professor na rede -os
qüinqüênios (reajuste a cada cinco anos),
afirma, já são um atrativo para o professor
continuar na ativa.
Outra conclusão do estudo é que os professores
aposentados ganham, em média, mais do que os da ativa:
R$ 1.541 ante R$ 1.461. Segundo a secretaria, a explicação
para esse fato é que os aposentados acumulam mais benefícios
(como os qüinqüênios) do que os iniciantes.
Fábio Takahashi
Folha de S.Paulo. |