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De sorriso fácil, o joalheiro aposentado Max
Graber, 81, não esconde o orgulho ao exibir cinco medalhas
"especiais" que ganhou na natação.
Pequenas e escurecidas, elas não são de metal
precioso nem têm valor comercial, muito menos se destacam
entre as mais de cem que coleciona em casa.
Mas as inscrições nas
medalhas confirmam a participação do ainda nadador
em cinco edições de uma das mais tradicionais
provas esportivas da história da cidade, a Travessia
de São Paulo a Nado.
O evento, que acontecia anualmente,
entre 1924 a 1944, chegava a reunir milhares de pessoas nas
margens do rio Tietê para assistir à competição.
"Era tão importante quanto a São Silvestre",
afirma Graber, que até hoje pratica natação
no Espéria, o mesmo clube que defendia nas provas de
mais de meio século atrás.
A comparação não
é exagerada. Na edição de 1941, por exemplo,
1.957 nadadores disputaram a prova. No mesmo ano, a São
Silvestre reuniu "algumas centenas" de atletas,
segundo relatos do jornal "Gazeta Esportiva" da
época.
Das águas do Tietê saíram
grandes nomes da natação brasileira, como Maria
Lenk, que desenvolveu o estilo de nado borboleta, e até
mesmo João Havelange. "Quem participava da prova
virava uma espécie de ídolo. As pessoas cultuavam
os nomes dos nadadores com respeito e inveja", conta
Graber, que foi um dos responsáveis por introduzir
o nado sincronizado no Brasil.
A largada, realizada a partir de batelões
estacionados no rio, era realizada em etapas. "Primeiro
as mulheres, por cavalheirismo e para evitar acidentes",
explica.
"Acidentes", no caso, eram
decorrência da disputa ferrenha que se travava na largada
dos homens, logo depois. "Cada clube organizava sua tropa
de choque, que eram as pessoas que deveriam abrir caminho
para os nadadores de elite", diz.
A melhor estratégia era nadar
no meio do leito do rio, onde a correnteza favorável
ficava mais forte. Graber, por exemplo, goleiro de pólo
aquático do time do Espéria, tinha físico
avantajado e sempre era escalado para o serviço "de
choque".
"A gente puxava os calções
de banho dos adversários, dava cotovelada, valia de
tudo para impedir o nadador de outro clube de chegar na frente.
Era muito divertido", lembra, rindo. "Depois havia
uma grande confraternização e tudo acabava bem.
As rixas dos clubes eram saudáveis, nada de violência
gratuita."
O percurso, de 5.500 metros, começava
na ponte da Vila Maria e terminava em frente ao clube Espéria,
onde hoje fica a ponte das Bandeiras. Nas margens, a vegetação
predominante era de mata ciliar. Algumas chácaras e
pescadores compunham o cenário bucólico na beira
do rio.
Mas, já na década de
40, o Tietê começava a enfrentar problemas de
poluição. Com o desenvolvimento industrial de
São Paulo, indústrias começaram a se
instalar nas margens do rio, lançando dejetos e esgotos
diretamente nas águas.
Para completar, o jornalista Cásper
Líbero, organizador da travessia, morreu em um acidente
aéreo em agosto de 1943.
Por esses motivos, no ano seguinte,
foi realizada a última edição da prova.
Com a voz embargada, Max Graber resume: "Foi muito triste,
ninguém imaginava que um dia o rio acabaria desse jeito.
Dá uma agonia muito grande olhar o rio hoje, morto
e sujo, e lembrar dos momentos de glória da travessia.
Ninguém acredita quando conto".
As informações são
do jornal Folha de S.Paulo.
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