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RÉPLICA/"DOZE MOVIMENTOS PARA UM HOMEM SÓ"
Espetáculo não adota estética "kitsch-gay"
J.C.VIOLLA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Se a senhora Inês Bogéa pretendeu, por meio de preconceito, desinformar o leitor, seu
objetivo foi alcançado. Se a crítica
discorda, gosta ou não gosta de
nosso trabalho, nada a declarar.
Embora boa parte do texto fale de
minha boa forma ou da contribuição prestada à moderna dança
brasileira, gostaria de esclarecer:
parte do que foi publicado não
corresponde à verdade. Há algo
de muito grave no trecho em que
ela diz que o tom adotado para algumas coreografias é o da "mais
desbragada estética kitsch-gay".
1) Na primeira coreografia atingida pela preconceituosa expressão, quem começa na berlinda é
um chimpanzé de brinquedo que
o visivelmente alterado personagem segura. Dentro do mesmo
raciocínio, continua a incompreensível avaliação, pois, vestido
com um pijama que mais lembra
o uniforme do interno de um manicômio para indigentes, executo
uma coreografia baseada nas criaturas anônimas e deficientes mentais
fotografados pela americana Diane Arbus. Inspirei-me também
no portador de sério distúrbio
neurológico, que não tem controle sobre seus próprios movimentos. O que há de kitsch-gay nisso?
Cometo algum deslize artístico
em minha interpretação? Eu respeito as diversidades e o contexto
é impróprio para se fazer caricatura, sobretudo de homossexuais.
2) As coreografias criadas para
duas músicas de Tom Jobim vão
parar na mesma vala comum do
kitsch-gay. Um homem sozinho,
vestindo calça preta e camisa de
smoking é visto num momento
de intimidade masculina. Executo
movimentos mínimos retirados
do cotidiano. Deito-me num banco, medito, me barbeio, subo numa escada, fico em posição de yoga, levanto um peso, boxeio, esboço passos de uma dança indefinida. Tiro a camisa. Mostrar a intimidade de um homem é prerrogativa de homossexuais?
3) Após a coreografia linear baseada nas pinturas do pintor austríaco Egon Schiele, tiro o figurino, espécie de saia-calça de modelo asiático, e danço a bela canção
de Tom Waits vestido com uma
sunga atlética, joelheira e tornozeleira. Já vimos de tudo nos palcos
modernos: artistas despidos, vestidos, de topless, rezando ou simulando cópulas nas mais exóticas posições. O que há de kitsch-gay na cuidadosa composição
mostrada?
O que parece existir por parte de
quem escreveu a crítica é um forte
preconceito contra o setor gay da
sociedade. Ganhamos -de algum
deus, ou da evolução darwiniana
uma mente pensante. Que seja
também usada contra qualquer
tipo de preconceito.
J. C. Violla é produtor e intérprete de
"Doze Movimentos Para Um Homem Só"
DOZE MOVIMENTOS PARA UM
HOMEM SÓ - Onde: Sesc Consolação (r.
Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, tel.
3234-3000). Quando: sex. e sáb.: 21h.
Dom.: 19h. Até 1º/9. Quando: de R$ 15 a
R$ 30.
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