São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002

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Diretor da Embrapa afirma que rejeição do partido a transgênicos traz prejuízos econômicos e de saúde pública ao país

PT optou por empresas agroquímicas, diz pesquisador

RAFAEL CARIELLO
DA REDAÇÃO

O pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Luiz Antônio Barreto afirma que "o PT está fazendo uma opção pelas empresas agroquímicas [fabricantes de agrotóxicos e pesticidas"" ao se colocar contra a comercialização de transgênicos no país.
A posição do partido, defendida "sem dogmatismo", foi reiterada pelo coordenador do Fome Zero, José Graziano, à Folha, em matéria que domingo passado revelou o lobby liderado pelo governo dos EUA para reintroduzir a discussão sobre o uso de transgênicos no país associado ao apoio ao programa de combate à fome.
Segundo o pesquisador, essa opção do governo eleito trará prejuízos econômicos e de saúde pública para o país. Barreto coordena o Centro Nacional de Recursos Genéticos e de Biotecnologia (Cenargen), da Embrapa.
A empresa desenvolve um tipo de soja transgênica adaptada a climas tropicais, em associação com a Monsanto, multinacional da área de biotecnologia que participa do lobby liderado pelo governo dos EUA.
Desde 98 que, por decisão judicial, os organismos geneticamente modificados não podem ser comercializados no Brasil.
"O Lula é contra os transgênicos e a favor dos agroquímicos. E não tem jeito: é um ou outro [que deve ser utilizado para a produção de alimentos e produtos agrícolas"", diz Barreto.
Para ele, a vantagem econômica do uso de transgênicos está no barateamento da produção agrícola, resultado da necessidade de uso menos intensivo de agrotóxicos. A soja transgênica, por exemplo, tem um gene -inexistente na soja "natural"- que a protege de um tipo específico e potente de agrotóxico. Por isso, segundo o pesquisador, seria necessário menor número de aplicações, mais eficientes e menos custosas.
A fabricação do tal agrotóxico mais potente é feita pela própria Monsanto, que desenvolveu o gene de resistência para a soja.
Com a proibição, diz Barreto, por dificuldades para competir com produtores de transgênicos que gastariam menos com agroquímicos, "o mercado de sementes do Brasil pode quebrar". "Proibir a solução biológica é entregar o ouro ao bandido."
Por ter sido menos exposto a produtos químicos, o organismo geneticamente modificado seria menos danoso à saúde, afirma Barreto. Ele atribui a opção do PT à "paranóia e ao medo" que a sociedade tem de gigantes multinacionais como a Monsanto.
A associação entre a multinacional e a Embrapa, para Mariana Paolli, coordenadora do Greenpeace no Brasil para temas de engenharia genética, "explica o envolvimento da empresa [Embrapa" na campanha a favor dos transgênicos".
Gerson Teixeira, um dos coordenadores da área de agricultura do programa de governo do PT, afirma que "a posição do PT é claramente contrária ao uso de transgênicos" por um princípio de precaução. "Trata-se de uma substância potencialmente lesiva", afirma.
Teixeira afirma que, quando Barreto alega que o PT fez uma opção pelos agroquímicos, "é um escapismo mal-intencionado". "Ao contrário, nos transgênicos de resistência o consumo de agrotóxicos aumenta muitas vezes. E se estabelece uma dependência de uma marca específica, no caso da soja, fabricada pela Monsanto."
Ele também contesta os supostos benefícios econômicos da "opção biológica". "Até por uma lógica de mercado, o Brasil tem que ser contra. Nosso mercado de venda de soja para a China está ameaçado por causa do uso [irregular] de transgênico no Sul."



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