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ELEIÇÕES
Apesar de entraves locais, convencionais peemedebistas tendem a apoiar Serra
PMDB e PSDB rumam para aliança sob assédio do PT
RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO LUÍS
A direção do PMDB enfrenta
dois problemas que, combinados,
podem inviabilizar a aprovação
da coligação com o PSDB na convenção nacional do dia 15: as divergências regionais entre peemedebistas e tucanos e a intensificação do avanço do PT sobre a ala
oposicionista da sigla. A tendência hoje entre os convencionais,
porém, é pela coligação com o
partido de José Serra.
Durante toda a semana passada,
a Agência Folha ouviu 61 pessoas
-entre dirigentes, lideranças e
convencionais de todos os 27 diretórios do PMDB- e constatou
que os governistas do partido
conseguiriam aprovar a coligação
resolvendo um ou dois dos atuais
problemas regionais, mas teriam
problemas caso o PT feche acordos com a oposição e parte dos indecisos da legenda.
Isso ocorre porque a possibilidade de a ala oposicionista apresentar na convenção peemedebista a proposta de aliança oficial
com o PT tem a simpatia de grande parte dos indecisos e de algumas fatias dos que estão dispostos
a votar com o governo.
De acordo com a apuração da
Agência Folha, a tendência de votos até anteontem mostra que
42,8% dos convencionais votariam a favor da coligação com os
tucanos; outros 4,9% ainda estariam indefinidos, mas com a tendência de aprovar a união.
Esse grupo é formado pela
maioria dos convencionais dos
diretórios do Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco,
Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande
do Norte e Roraima, além de metade dos convencionais de São
Paulo e parte do Amapá, Maranhão e Rio Grande do Sul.
Somados, esses peemedebistas
representam 47,7% dos votos da
convenção, o que supera em mais
de 10 pontos percentuais os índices dos que tendem a ser contrários à coligação com os tucanos e
dos que estão indefinidos, mas
com propensão a reforçar o voto
contra, que somam 37,6% dos
convencionais.
Essa ala oposicionista abrange a
maioria dos diretórios de Goiás,
Minas Gerais, Paraná, Sergipe e
Tocantins, além de metade de São
Paulo e parte dos convencionais
do Amapá, Ceará, Maranhão e
Rio Grande do Sul.
No grupo dos indefinidos sem
tendência declarada, 14,7% dos
votantes, estão diretórios que
normalmente seguem os governistas, mas que ameaçam se rebelar devido a problemas regionais
com o PSDB. Para ser aprovada, a
coligação precisa receber 50% dos
votos válidos.
Os problemas estão em Santa
Catarina (onde o PSDB local
ameaça apoiar o PPB, arqui-rival
do PMDB), na Paraíba (onde o
PMDB se irritou com o fato de o
PSDB ter-lhe tirado o apoio do
PFL), em Mato Grosso (onde há
rivalidade histórica entre as duas
legendas) e em Rondônia (onde o
PMDB exige o apoio tucano ao
governo do Estado).
"Ou fechamos com o PSDB [regional] ou votamos contra. Se não
fechar, vamos buscar outras
alianças, aí a coligação nacional
não nos interessa. Não é uma
questão fisiológica, é uma questão
de sobrevivência política", afirma
o senador Amir Lando, pré-candidato peemedebista ao governo
de Rondônia.
Apesar da ala rebelada, os números acima mostram que seria
necessária a ocorrência de um
verdadeiro desastre para o grupo
governista, ou seja, a não-solução
de nenhum dos problemas regionais, para que a coligação com os
tucanos corresse risco de ser reprovada.
Nos últimos dias, os presidentes
dos dois partidos, Michel Temer
(PMDB) e José Aníbal (PSDB), e o
próprio presidente Fernando
Henrique Cardoso têm trabalhado intensamente para tentar solucionar esses problemas. O convite
(recusado) ao senador Ney Suassuna (PB) para que ele ocupasse o
Ministério da Integração Nacional foi um lance desse esforço.
Ocorre que a articulação para
aliança com o PT, liderada no
PMDB pelos ex-governadores
Orestes Quércia (SP) e Paes de
Andrade (CE) e pelo ex-presidente José Sarney (AP), tem a simpatia de diretórios indecisos como
os de Mato Grosso e Paraíba, e
ainda pode "morder" fatias que
votariam com os governistas, como as alas lideradas pelo prefeito
de Fortaleza, Juracy Magalhães, e
pelo senador Pedro Simon (RS).
A possível aliança seria reforçada caso Simon aceite a indicação
para vice na chapa petista -o que
ele recusava fazer até anteontem-, fator que teria a tendência
de apoio de cerca de 50% dos convencionais. O senador foi preterido por Rita Camata (ES) na indicação para a vice do presidenciável tucano, José Serra.
"Essa chapa [Lula-Simon" venceria a convenção. Se isso acontecer, a tendência da maioria do
partido é votar contra o Serra",
afirma o deputado federal Edison
Andrino, que lidera a ala oposicionista (minoritário) de Santa
Catarina.
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