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OPERAÇÃO EM XEQUE
45 consultores têm salários entre R$ 4.000 e R$ 10 mil; R$ 1 milhão é gasto com passagens e diárias
Fome Zero paga R$ 17 milhões em salários
MARTA SALOMON
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Consultores contratados com
salário de R$ 10 mil -mais do
que ganha o presidente da República- para cuidar da programação visual e mais de R$ 1 milhão
em gastos com passagens e diárias
são artigos de luxo da engrenagem do projeto Fome Zero, destinado a combater a pobreza.
Os detalhes aparecem nas 73 páginas do projeto de cooperação
técnica com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura)
assinado pelo ministro José Graziano (Segurança Alimentar).
O documento alega que o recém-criado ministério de Graziano possui apenas 64 cargos em
comissão (pessoas contratadas
sem concurso público), "uma força de trabalho aquém do grande
desafio que tem pela frente".
A parceria com a Unesco custará R$ 26,6 milhões (R$ 24 milhões
já foram pagos). O valor representa mais de 40% do que foi transferido às famílias por meio do Cartão-Alimentação, de R$ 50 por
mês (R$ 58,2 milhões até sexta).
O dinheiro sai do Orçamento da
União. A contratação de pessoal
(45 consultores) leva a maior parte: R$ 17,4 milhões. Os salários variam de R$ 4.000 a R$ 10 mil -esse último valor é pago a três consultores: dois especialistas em artes gráficas e um consultor que
cuida do aperfeiçoamento da legislação de doação de alimentos.
Passagens e diárias consumirão
R$ 1,1 milhão. O preço das passagens está tabelado em R$ 1.500, e
das diárias, em R$ 200. Ou seja:
para ficar um dia nas cidades mais
pobres do país, o consultor ganha
o mesmo que quatro famílias recebem por mês. O contrato também prevê compra de aparelhos.
Seminários e reuniões custarão
mais R$ 1,5 milhão. Aí está incluída a contratação de empresa para
organizar cinco eventos de divulgação de "experiências bem-sucedidas" (R$ 150 mil cada).
Um dos objetivos da parceria é
acompanhar a criação de comitês
gestores nas mil cidades onde o
Fome Zero deverá ser implantado
em 2003. Esses comitês escolherão as famílias e pelo controle social do programa. Também são tidos como agentes do desenvolvimento local. O processo deve treinar 30 mil pessoas, segundo o texto do projeto, e formular modelos
de segurança alimentar e desenvolvimento local adaptado a cada
região beneficiada.
A parceria acertada em março
deste ano usa a experiência de um
contrato anterior, assinado durante o governo FHC. No segundo mandato de FHC, a Unesco
preparou projetos de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável em 400 cidades entre as mais
pobres do país. Cerca de 9.000 lideranças comunitárias foram
treinadas no Programa Comunidade Ativa, abandonado por Lula.
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