|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governistas defendem rigor contra grampo
Para Ciro Gomes, "tem que pegar meia dúzia de branco importante e meter na cadeia, através do devido processo legal"
José Múcio, ministro das Relações Institucionais, admite ser "desconfortável para o governo" descoberta de grampo no Supremo
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Queixando-se de um sentimento de vulnerabilidade, aliados do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e integrantes do
primeiro escalão do governo
defenderam ontem maior rigor, inclusive do Executivo,
contra a instalação de escutas
telefônicas no país.
O ex-ministro e hoje deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) chamou de grave a situação
-"Se o presidente do STF é
grampeado, imagine quem está
protegido"- e pregou punição
rigorosa de quem pratica escuta clandestina.
Segundo Ciro, diante dos
avanços tecnológicos, "a única
coisa que pode fazer é o efeito
dissuasório da punição". "Tem
que pegar meia dúzia de branco
importante e meter na cadeia,
através do devido processo legal", afirmou Ciro, defendendo
que se leve "a exemplaridade à
última conseqüência".
Presente à comemoração do
40º aniversário da revista "Veja", o vice-presidente da República, José Alencar, admitiu
que, em conversas ao telefone,
se flagra pensando que poderia
estar grampeado.
"Hoje não há segurança de
nenhum brasileiro em relação
ao telefone ou mesmo internet
e e-mail, ou coisa que o valha.
Isso hoje é uma coisa difícil",
disse Alencar, afirmando, em
tom de brincadeira, que toma
mais cuidado ao falar com as
namoradas.
O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, reconheceu que a descoberta de grampo no telefone do
presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), Gilmar
Mendes, é "desconfortável para
o governo".
"Somos todos vítimas disso",
disse o ministro.
A exemplo de Ciro, Múcio
elogiou Paulo Lacerda, afastado desde segunda-feira do comando da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Segundo Múcio, a cúpula da
Abin foi afastada "para que não
houvesse intimidação da investigação". "Ele foi afastado para
que as investigações fossem tocadas com maior conforto. O
dr. Paulo é um homem de bem,
que o Brasil inteiro admira.
Mas foi melhor que houvesse
afastamento", justificou.
O grampo foi objeto de conversa entre o ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, e o
da advogado-geral da União,
José Antonio Dias Toffoli. Defensor de um esforço comum,
incluindo imprensa e Judiciário, para o combate ao grampo,
Geddel questionou Toffoli sobre o impacto da notícia.
"Quando estava dando certo,
acontece isso", lamentou Toffoli, para quem essa vulnerabilidade transforma a vida pública em "sacerdócio".
O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), chamou de
inadmissível a instalação de escuta sem autorização judicial.
"Quem já sofreu como sofri na
época do governo militar sabe
como isso [a inviolabilidade de
lar e a privacidade] é caro para a
democracia", afirmou.
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, defendeu adoção de medidas mais duras por
parte do governo. "É como se
estivéssemos em um grande
Big Brother."
Texto Anterior: Grampos: "É conversa mole fazer outra lei", diz Chinaglia Próximo Texto: Perfil: Grampos marcaram gestão de Lacerda na PF Índice
|