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PERFIL
Grampos marcaram gestão de Lacerda na PF
ANDRÉA MICHAEL
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Realizados com autorização
judicial, os grampos telefônicos
foram a marca, por quase cinco
anos, da gestão do delegado
Paulo Lacerda na direção-geral
da Polícia Federal. À margem
da legalidade, grampos atribuídos à Abin provocaram seu
afastamento do cargo de diretor-geral da Agência Brasileira
de Inteligência.
No comando da PF desde o
início do governo Lula, em
2003, até setembro de 2007,
Lacerda, 62, tinha como lastro
político o total apoio de Márcio
Thomaz Bastos, ministro da
Justiça entre 2003 e 2007.
Com a saída de Bastos do governo, a PF deixou de ser uma
bandeira política, usada inclusive na reeleição do presidente
Lula, como chancela de que sua
gestão era implacável na caça
aos corruptos. Foi substituída
pelo Pronasci, o Programa Nacional de Segurança com Cidadania, a menina dos olhos do
sucessor de Bastos na Justiça,
Tarso Genro.
A troca de cadeiras na PF e na
Abin ocorreu em setembro de
2007, mas a escolha de Luiz
Fernando Corrêa para suceder
Lacerda havia sido feita por
Tarso Genro desde março,
quando o atual diretor-geral da
polícia era secretário nacional
de Segurança Pública.
No Planalto, havia queixas de
que a PF corria sem controle.
Um irmão do presidente, Genival da Silva, o Vavá, foi grampeado pedindo dinheiro a um
lobista. Até o presidente chegou a ser gravado indiretamente, conversando com Vavá, que
estava grampeado, durante a
Operação Xeque-Mate -investigação, em 2007, sobre o comércio ilegal de máquina de jogos. O nome Xeque-Mate levou
Lula a avaliar que a operação tinha o objetivo de miná-lo, o
que, na época, fez Lacerda perder pontos com o presidente.
Nascido em Anápolis (GO),
Lacerda foi bancário antes de
entrar na PF. Formou-se em
direito pela faculdade Cândido
Mendes, no Rio de Janeiro. Delegado desde 1977, comandou
várias superintendências da
PF, mas ganhou notoriedade ao
investigar irregularidades durante o governo Collor e a prática de crimes financeiros que
levaram à quebra do Banco Nacional, em 1995.
Aposentou-se em 1997,
quando se tornou assessor do
senador Romeu Tuma (DEM-SP), ex-diretor-geral da PF.
O ápice de sua carreira veio
com o comando da PF, em
2003. Ele reestruturou o órgão
e centralizou na sede, em Brasília, o comando de operações de
repercussão nacional.
Com Lacerda, a área de inteligência foi priorizada e ganhou
um braço operacional. Desse
setor saíram megaoperações
que deram visibilidade pública,
mas renderam críticas à PF, devido à exposição de pessoas que
poderiam ser inocentes. Foi o
caso da Operação Hurricane,
em que a PF algemou e prendeu três desembargadores.
As críticas ecoaram no Ministério da Justiça, que reprovou o que Tarso Genro chamou
de "protagonização excessiva
da PF", o que poderia violar o
princípio constitucional da
presunção da inocência.
Anteontem, dia de seu afastamento da Abin, Lacerda colocou o cargo à disposição, mas o
presidente não aceitou. Lula,
porém, cedeu às pressões do
presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), Gilmar
Mendes, do presidente do Congresso, senador Garibaldi Alves
(PMDB-RN), e do ministro da
Defesa, Nelson Jobim.
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