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JANIO DE FREITAS
A roleta eleitoral
A escolha do seu voto, não
tenha dúvida, é a mais
acertada. Se o tornará um eleitor vitorioso, é outra história. Se
o candidato escolhido, caso eleito, corresponderá ao que você
deseja dele, na prefeitura ou como vereador, também não altera o acerto da sua escolha neste
momento.
Dizem que o voto certo, sério e
criterioso, é o voto dado com a
consciência. Não é verdade. Em
absolutamente nenhum caso. A
escolha do voto, seja por quem
for e em quem for, é uma questão de informação. Pode haver
na escolha um componente
ideológico, hoje em dia rarefeito, um tanto de paixão partidária, quem sabe mera simpatia.
Nada disso, ou do que mais possa influir, nega o fato de que a
escolha depende do nível de informação do eleitor. E nesse capítulo, para lhe ser franco, devo
dizer que estamos muito mal,
péssimos mesmo, você eleitor e
nós jornalistas. Mas tranqüilize-se: a responsabilidade por isso não é meio a meio, está concentrada.
Para definir a sua preferência
de eleitor, você estava sabendo
qual foi o real desempenho, no
mandato que acaba agora, do
prefeito e dos vereadores que se
candidatam à reeleição? E dos
que buscam eleição, e não reeleição, você chegou ao momento
da escolha sabendo direito o necessário para dar o seu voto com
segurança?
Duvido (estou me esforçando
para ser educado, porque tenho
certeza). Posso não ter o gosto
da profissão, mas, ao fim de
tantos anos, tenho o vício da informação, e nem assim poderia
dizer que sei o suficiente sobre a
maioria dos que se oferecem ao
meu voto. No convívio pessoal, é
comum que observações sobre
um ou outro candidato, ainda
que figurante no grupo mais reduzido de candidatos a prefeito,
causem surpresa mesma nas
pessoas com bom conhecimento
geral sobre o cotidiano.
Quem quiser saber como foi a
sessão do Senado ou da Câmara
na véspera não tem onde encontrar essa informação primordial nos jornais brasileiros.
Não foi sempre assim, em alguns jornais esse noticiário foi
até de deliciosa e freqüentada
leitura. Por displicência ou irreflexão, o jornalismo ainda não
se deu conta de que a ditadura
acabou há 20 anos, e com isso
deixa a vida parlamentar ao
léu, exceto para tomar meia dúzia de declarações diárias e tratar pontualmente de uma votação eventual. O efeito disso, para o próprio padrão da vida
parlamentar, é óbvio. E se nem
o Congresso é refletido para os
cidadãos, não se fale da atenção
jornalística dada a prefeituras,
câmaras municipais e assembléias legislativas.
O cidadão é um abandonado.
Não só pelos políticos. Também
pelos que devem informar sobre
os políticos e sua (in)atividade.
Sem informação, o que o eleitor
faz é sempre a melhor escolha
dentro das suas precárias limitações.
Faço votos de que não lhe advenha, adiante, a sensação de
que o seu palpite, ou, vá lá, o seu
"voto consciente" perdeu-se na
roleta eleitoral.
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