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JANIO DE FREITAS
Grandes eleitores
Na primeira e acelerada semana pós-eleição, o noticiário e os comentários predominantes deram conta de que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva nada poderá aprovar no
Congresso, porque não terá
maioria. Vai ter um ministério
fisiológico, para retribuir os
apoios que recebeu. O PT já é
traído por sua cúpula, para benefício pessoal de Lula. O coordenador "Antônio Palloci e o senador eleito Aloizio Mercadante brigaram". "Lula e José Dirceu estão agastados", dizem, por
repressão do primeiro à exposição pública do seu principal
operador. O plano de combate à
fome, inaugural dos novos propósitos, está furado. E o FMI e o
governo americano já mostram
que serão intolerantes e inflexíveis.
Pelo que se pode ler e ouvir,
não houve eleição. Houve uma
catástrofe. Mas o dólar caiu,
queda acentuada, tão logo o BC,
em vez de anunciar o pagamento dos seus títulos regulados em
dólar, afinal prorrogou-os. Se
era por temor eleitoral que o dólar subia durante a campanha,
com mais razão deveria subir
depois de confirmada a derrota
do candidato dado como representante da paz e da felicidade
para os "mercados". E com mais
razão ainda, diante da catástrofe que nos é anunciada.
E também da que não é. Cujo
nome provisório é "crise da mídia". Referente aos problemas
que assoberbam a mídia, com os
aumentos de custos e a queda de
faturamento ano após ano, na
situação econômica a que o país
foi levado. Problemas de que a
semana deu uma demonstração
que jamais se esperaria.
Encerrados os meses e meses
em que as TVs, rádios e jornais
do grupo Globo, com seus tantos
porta-vozes do "mercado", mais
engrossaram o coro de que a vitória de Lula ameaçaria de suspensão os pagamentos da dívida brasileira, deu-se o velho desarranjo entre feiticeiros e seu
feitiço: a Globopar, empresa holding do grupo, não esperou nem
24 horas, após o resultado eleitoral, para declarar (discreta e
enviesadamente) a suspensão
do pagamento das dívidas de
suas empresas.
Pelo diagnóstico em vigor, temos então uma origem clara e
interessante na "crise da mídia": decorre do governo e da
política econômica a que a mídia deu pleno apoio e louvação
por oito anos. A visão crítica,
que é identificada como parte
da natureza do jornalismo propriamente dito, foi abandonada. E como tal visão, por seus
pontos mais fortes ou por sua
média, é fator de influência nas
decisões e políticas de governo, a
omissão crítica da mídia associou-a à responsabilidade pela
política econômica vigente nos
últimos oito anos.
Três quartos do eleitorado, ou
76% dos eleitores, preferiram os
candidatos presidenciáveis de
oposição à política econômica
do governo Fernando Henrique
Cardoso. Logo, os grandes eleitores de Lula da Silva foram o
FMI, Fernando Henrique, Pedro Malan e, tanto ou mais do
que os outros, a mídia e seus órfãos e viúvas. Deprimem-se e se
irritam por uma obra que, em
grande parte, é sua.
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