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JANIO DE FREITAS
O país indefeso
Se reduzir a inflação ao mínimo é tão favorável aos brasileiros em geral e, portanto, ao
país, como dizem os empresários
influentes, os economistas e os jornalistas de política e economia,
não se explica a ausência de uma
grande festa nacional na semana
passada. As celebrações dos 10
anos do Real restringiram-se ao
chamado supra-sumo da elite econômico-financeira.
Ocorre uma confusão que dificulta o entendimento de muita
coisa essencial na atualidade perturbadora a que estamos todos
condicionados, no Brasil. O Plano
Real, a rigor, foi um plano de estabilização da moeda, proveniente
das cabeças criativas (qualidade
raríssima entre economistas) de
André Lara Rezende e Pérsio Arida. Foi um plano para deter a desvalorização inflacionada e inflacionária da moeda, não era um
plano econômico, nem pretendeu
sê-lo.
Todas as ocorrências econômicas e sociais subseqüentes ao impacto da estabilização da moeda,
aplicado no segundo semestre de
94, governo Itamar Franco, foram
obra de políticas de governo
-tanto o anterior, como o atual.
Políticas econômicas que não figuraram no Plano Real e que têm
suas origens personificadas, antes,
em Pedro Malan e Fernando Henrique e, hoje, em Lula e Antonio
Palocci.
Nos seus 10 anos, o Real tem sido, acima de tudo, um pretexto
para as políticas econômicas desejadas pelos dois governos. O Plano
Real não propôs nem explica a
obra que caracteriza o seu decênio.
País que precisa desesperadamente crescer para gerar emprego
e reduzir a extensão e a profundidade da pobreza, nos últimos 10
anos o Brasil cresceu 2% médios
ao ano, enquanto países equivalentes vêm crescendo 8%, 10%, casos da Rússia e da Índia, entre outros citáveis. Por conseqüência, o
desemprego multiplicou-se por
dois e meio, entre o início do governo Fernando Henrique e agora. Logo, os reflexos desses feitos,
em enfraquecimento do país, deterioração da vida urbana, decadência cultural e desarticulação
familiar e pessoal são, todos, resultados de políticas econômicas.
O pretexto da estabilidade do
real tem servido a concepções econômicas e objetivos políticos que
se associam na prática e nos efeitos. Um exemplo é abrangente e
definitivo sobre os anos de Fernando Henrique/Pedro Malan: a
dupla dedicou R$ 111,3 bilhões a
socorros a bancos. Ou melhor, aos
acionistas dos bancos socorridos.
Qualquer um pode imaginar o
quanto de desenvolvimento seria
impulsionado com a mesma
quantia, que acabou impulsionando apenas maiores fortunas
pessoais.
Sobre os anos que unem, na
mesma política econômica, Fernando Henrique/Pedro Malan e
Lula/Palocci, dois exemplos são
também abrangentes e definitivos. Um, não poderia ser de outro
modo, está nos bancos: de 95 a
2003, só a Petrobras teve lucro
maior que o setor bancário, segundo pesquisa da Economática.
A contribuição do governo Lula,
embora em apenas um ano, deu-lhe a honra de manter o padrão
anual do antecessor.
E vai ainda mais longe. O lucro
das 500 maiores empresas no Brasil, ao que verificou a revista "Exame", subiu no primeiro ano de Lula interessantes 1.048%: de R$ 5,4
bilhões em 2002 para R$ 63 bilhões em 2003. Só no Brasil tamanho aumento não provoca um escândalo de arrasar qualquer governo.
Aumento ainda mais interessante quando se considera, primeiro, que em 2003 a economia
brasileira diminuiu, o que ficou
expresso na redução de 0,2% no
valor da produção de bens e serviços; e mais interessante quando se
constata que as empresas tiveram
lucro 1.048% maior ao faturarem
menos 3,5% no ano. Fizeram o seu
lucro brutal com os juros lulistas e
com aumentos de preços.
Os lucros recordistas dos bancos
e das maiores empresas têm sentido óbvio: são transferência de dinheiro da população em geral para a menor de suas partes -os
que não chegam nem a 5%, mas
concentraram a riqueza e a renda.
O que mais impressiona diante
dos últimos 10 anos não é, porém,
a obra anti-social e degeneradora
do país. É a maneira como tal
obra de política econômica se impõe, sem defesa possível da população e da própria e corroída nação. As instituições brasileiras estão falindo.
Falar em regime democrático no
Brasil é uma aberração tão grande quanto os feitos dos seus governos nos 10 anos do Real.
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