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SOMBRA NO TUCANATO
Ricardo Sérgio nega ter pedido comissão na venda da Vale
Tucanos afirmam que FHC
sabia de suspeita de propina
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de
Barros e o ministro da Educação,
Paulo Renato Souza, confirmaram ontem à Folha o teor das declarações que deram à revista
"Veja" deste fim de semana, segundo as quais uma suposta tentativa de cobrança de propina na
privatização da Vale do Rio Doce,
realizada em maio de 1997, chegou ao conhecimento do presidente Fernando Henrique Cardoso em 1998, sem que nenhuma
atitude fosse tomada pelo governo para esclarecer o caso.
Os pivôs da história são os empresários Ricardo Sérgio de Oliveira, diretor do Banco do Brasil à
época da privatização, e Benjamin
Steinbruch, líder do consórcio
comprador da Vale.
Segundo a reportagem, o ex-diretor do Banco do Brasil, responsável no passado pela arrecadação
de fundos de campanha do atual
presidenciável tucano José Serra,
teria cobrado R$ 15 milhões -ou
US$ 15 milhões, conforme a versão- para organizar o consórcio
vencedor da privatização da Vale.
De acordo com a revista, a informação teria partido de Steinbruch, que denunciou a suposta
tentativa de achaque a Mendonça
de Barros e a Paulo Renato, conforme admitem ambos.
Procurado ontem pela Folha,
Steinbruch não confirmou mas
também não negou a história.
"Não posso dizer nada agora."
Também procurado pela Folha,
Ricardo Sérgio negou as informações, por meio de assessores, e
não quis se pronunciar sobre o caso. À "Veja", Ricardo Sérgio disse:
"É mentira grosseira e leviana".
A cobrança, que não teria sido
paga, teria ocorrido pelo trabalho
desenvolvido pelo ex-diretor do
BB na organização dos fundos de
pensão estatais em torno do consórcio vencedor, o que garantiu
maior concorrência ao leilão e fez
com que o preço de venda da Vale
chegasse a R$ 3,3 bilhões.
Em entrevista à ""Veja", Mendonça de Barros diz que, avisado
sobre o caso, relatou o episódio a
FHC. ""Informei quem deveria informar: o presidente Fernando
Henrique." ""O presidente falou:
"Eu não sei nada disso e acho que
você fez muito bem em não se envolver nesse assunto."'
Segundo a "Veja", assessores da
Presidência afirmaram que FHC
disse não se lembrar de ter tido esse diálogo com Mendonça de Barros. Ontem, até o fechamento desta edição, o Planalto não havia se
pronunciado sobre o episódio.
Mendonça de Barros afirma
também não ter se envolvido no
caso por ele não estar relacionado
à sua área de atuação.
Já a assessoria do ministro da
Educação disse que ele não tomou providências sobre o assunto porque não houve crime, já que
o dinheiro, segundo Steinbruch,
não teria sido pago.
A Paulo Renato, o empresário
disse que a suposta propina teria
sido pedida ""em nome de tucanos". ""[Ele" Nem disse, tampouco
eu perguntei [quais tucanos"",
disse Paulo Renato à revista.
O ministro afirmou que, de
acordo com Steinbruch, ao ouvir
que Ricardo Sérgio estaria agindo
em nome de integrantes do PSDB,
o empresário preferiu checar a informação com o presidente.
""Por meio de um emissário,
[Steinbruch" me disse ter feito
contato com Fernando Henrique.
Como resposta, ainda segundo
suas palavras, escutou que o governo não tinha nada a ver com
aquilo e que ele não deveria pagar", disse Paulo Renato.
Steinbruch procurou Mendonça de Barros depois de ter discutido o caso com a diretoria da empresa, conforme a Folha apurou.
Os diretores da empresa teriam
impedido que o caixa da Vale fosse usado para o pagamento da comissão a Ricardo Sérgio. A informação foi confirmada à Folha por
duas pessoas próximas a Steinbruch na época da privatização.
Segundo essas pessoas, o empresário estaria sendo pressionado a pagar a comissão que teria sido acertada na formação do chamado consórcio Brasil, integrado
pela Vicunha, de Steinbruch, com
apoio dos fundos de pensão Previ,
do Banco do Brasil, e Petros, da
Petrobras, além do Bradesco.
No período que antecedeu a privatização, foram formados dois
consórcios para a compra da Vale. Um era composto por Votorantim e Anglo American. O outro foi formado mais tarde por
Steinbruch, que conseguiu o
apoio do Bradesco após o banco
ter saído do outro consórcio.
Os dois consórcios disputavam
o apoio dos fundos de pensão,
principalmente a Previ. Na ocasião, Ricardo Sérgio tinha grande
influência sobre a Previ. O fundo
era comandado por Jair Bilac, na
época presidente do fundo, e João
Bosco, então diretor de investimentos. Bosco era considerado
braço direito de Ricardo Sérgio na
Previ e responsável por indicações sobre onde o fundo deveria
investir. Os dois haviam trabalhado juntos no Banco do Brasil.
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