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FOGO CRUZADO
Ex-presidente critica "ingerência política" do governo no setor privado
FHC diz que, "explosivo", Dirceu faz "má política"
ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO REAL (RJ)
O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso criticou ontem o que classificou de "ingerência do governo Lula no setor privado" e respondeu aos ataques de
José Dirceu ao PSDB, afirmando
que o ministro faz "má política".
Na quarta-feira passada, Dirceu
disse que o PSDB não tinha autoridade moral para questionar o
uso político de recursos do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e dos fundos de pensão através de PPPs (Parcerias Público-Privadas) no governo Lula.
"Você conhece o temperamento dele [Dirceu]. O meu é diferente. Eu ouço e deixo passar. Toda
hora ele provoca dificuldades
mais adiante pela explosividade.
Eu acho melhor não fazer isso
porque penso no Brasil. Eu não
quero queimar pontes nunca. Ele
queima sem querer, mas queima,
e isso é má política", disse FHC
antes de participar de um seminário sobre o desenvolvimento da
região sul do Estado do Rio no
município de Porto Real (RJ).
O ministro, que estava ontem
em Fortaleza, foi informado pela
Folha da declaração do ex-presidente, mas não comentou nada.
Durante o evento, FHC também
criticou o que disse considerar
uma excessiva ingerência do governo Lula no setor privado.
Segundo ele, o setor privado
tem de ser regulamentado, mas
não deve ficar à mercê da ingerência política do governo.
"Por que falar de ingerência política num momento como este
em que o governo está presente
em todos os setores da vida nacional? Há ingerência no miúdo, no
médio e no graúdo, como se houvesse uma sabedoria onisciente
por parte de um único partido",
afirmou FHC (1995 a 2002).
Mais adiante, sem citar o governo federal ou o PT, o ex-presidente afirmou que participação política não pode ser confundida com
manipulação. "Eu sou homem de
partido, sou presidente de honra
do PSDB, mas não confundo a
opção partidária com a ação pública de quem está no governo."
Na seqüência, FHC afirmou
também "que quem está no governo é eleito por um partido para
cumprir um programa, e não para usar a máquina pública para
botar afiliados do partido".
No encontro, o público era formado principalmente por cabos
eleitorais de candidatos a vereador coligados com o PSDB.
Prefeitura paulistana
FHC comentou também o desempenho de José Serra (PSDB)
nas pesquisas de intenção de voto
para a Prefeitura de São Paulo.
"O eleitor já aprendeu a discernir. Se não fosse assim, nós
[PSDB] não estaríamos na frente
em São Paulo, porque a pressão
de recursos é tão desproporcional
e tão mais forte do ponto de vista
econômico hoje para o partido
que está no governo [PT], que
não teríamos nenhuma chance."
O ex-presidente se baseou na última pesquisa Ibope em São Paulo, na qual Serra tem 34% das intenções de voto e Marta Suplicy
(PT), 30%. A margem de erro é de
3,5 pontos percentuais. Levantamento do Datafolha, no entanto,
mostra Marta na frente, com 34%,
e Serra em segundo, com 30%. A
margem de erro da pesquisa Datafolha é de dois pontos.
FHC disse que se ofereceu para
visitar bairros paulistanos com
Serra. "Mas não pode ser uma
participação no dia-a-dia da campanha política. Sou um ex-presidente e tenho que tomar muito
cuidado nessas horas para não
transformar cada encontro num
encontro de um só segmento."
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