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DATAFOLHA
63% dos que acreditam em corrupção acham que dinheiro foi usado para fins pessoais e para financiar campanhas do PT
49% acreditam em propina em Sto. André
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Praticamente metade dos entrevistados da pesquisa Datafolha
(49%) acredita que houve cobrança de propina na Prefeitura de
Santo André durante a gestão do
prefeito assassinado Celso Daniel
(PT). Dentre os que acham que
houve corrupção, 63% acreditam
que o dinheiro da propina seria
usado para fins pessoais e para financiar campanhas de candidatos do Partido dos Trabalhadores.
A percepção de que houve corrupção numa administração petista por enquanto não trouxe
abalos à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da
República. A intenção de voto em
Lula registra ligeira oscilação (de
40% para 38%) em relação à pesquisa Datafolha de um mês atrás.
Quando o suposto esquema de
propina foi revelado, o PT divulgou nota advertindo a população
de que "outras tentativas de difamar e caluniar o partido e seus dirigentes virão neste momento
eleitoral". A pesquisa revela, contudo, que muitos seguidores do
partido acreditam que houve corrupção na Prefeitura de Santo André. E demonstram forte desconfiança sobre o uso do dinheiro
que teria sido arrecadado.
Entre os petistas e admiradores
do partido que acham que o secretário de Serviços Municipais
Klinger Luiz de Oliveira Souza e
empresários pediam propina a
donos de empresas de ônibus, é
expressiva a parcela (62%) que
admite que o dinheiro pode ter sido usado, ao mesmo tempo, para
enriquecimento ilícito e para financiar campanhas do PT.
Do total de entrevistados que
acham que houve pedido de propina, 17% acham que o resultado
do achaque seria utilizado pelos
acusados apenas para fins pessoais. Igualmente, 17% entendem
que o dinheiro seria dirigido para
financiar candidatos petistas.
A pesquisa foi realizada 15 dias
depois da revelação de que Klinger, Sérgio Gomes da Silva, Ronan
Maria Pinto, Humberto Tarcísio
de Castro, Irineu Marin Bianco e
Luiz Marcondes de Freitas Júnior
foram acusados pelo Ministério
Público da prática dos crimes de
formação de quadrilha e concussão, suspeitos de extorquir dinheiro de empresários para financiar campanhas eleitorais do PT.
Metade dos entrevistados (51%)
tomou conhecimento do suposto
esquema de propina revelado ao
Ministério Público pelo médico
João Francisco Daniel, irmão de
Celso Daniel, sequestrado e assassinado em janeiro último. Desse
universo, 86% têm curso superior
e 79%, renda familiar de mais de
dez salários mínimos.
João Francisco disse que fez as
denúncias para mostrar "que o
PT é igual aos outros partidos e
age igual nas eleições, com caixa
dois no esquema de arrecadação".
Segundo o depoimento do médico a quatro procuradores, os recursos acumulados teriam sido
encaminhados a Gilberto Carvalho, então secretário de Governo e
Comunicação de Santo André,
que levaria o dinheiro para o presidente do PT, deputado José Dirceu, coordenador da campanha
presidencial de Lula.
"Quero que isso sirva para o povo escolher melhor seu candidato", disse, na ocasião. Embora um
dos objetivos alegados por João
Francisco tenha sido mostrar que
o PT "não difere em nada dos outros partidos", a pesquisa revela
uma percepção de que há menos
corrupção no PT do que em outros partidos.
Partidos e corrupção
As respostas estimuladas, diante da pergunta sobre envolvimento de políticos de alguns partidos
em casos de corrupção, colocam o
PT numa posição mais favorável:
56% entendem que muitos dos
políticos do PFL estão envolvidos
com corrupção (a maioria deles,
segundo 27% dos consultados).
Em relação aos políticos do
PMDB, esse percentual é de 55%
(e de 52% para o PSDB). No caso
do PT, o percentual é de 43%. O
PT registra o maior percentual
(32%) entre os que consideram
ser "raro" o envolvimento de seus
quadros em casos de corrupção.
Considerando os partidos de
preferência dos entrevistados, os
petistas acreditam que há mais
corrupção entre os tucanos do
que o contrário: 63% dos entrevistados que preferem o PT responderam que a maioria (ou
muitos) dos políticos do PSDB estão envolvidos em corrupção.
Esse percentual é de apenas
50% quando feitas as mesmas
perguntas a tucanos sobre a corrupção entre políticos petistas.
A mesma situação é percebida a
partir da distribuição dos entrevistados pela intenção de voto para presidente da República: é
maior o percentual de petistas
(56%) que identificam políticos
do PSDB em casos de corrupção
do que o contrário: 50% dos eleitores de Serra acreditam que a
maioria (ou muitos) dos políticos
petistas são corruptos.
As opiniões são divididas em relação à pergunta se Lula tomou ou
não conhecimento do suposto pedido de propina em Santo André.
Dos entrevistados, 34% afirmam que "não sabem". 36% acreditam que Lula teve conhecimento, enquanto 30% entendem que
Lula desconhecia o esquema de
corrupção.
Por enquanto, a pesquisa confirma a avaliação do presidente do
PT, José Dirceu, no dia seguinte à
denúncia sobre as contribuições
ilegais das empresas de ônibus, ao
afirmar que "Lula não tem nada a
ver com isso". Dirceu previu, na
ocasião, que as afirmações do irmão de Celso Daniel não prejudicariam a candidatura de Lula.
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