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NEO-ALIADO
Presidente do Senado se torna centro de gravidade do partido, que se aproxima do Planalto após votação da tributária
Sarney "assume" PMDB e negocia ministérios
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de amargar um período
de isolamento político nos últimos anos do governo do tucano
Fernando Henrique Cardoso, o
presidente do Senado, José Sarney, está de volta ao primeiro plano da política nacional. Ele é o
centro de gravidade em torno do
qual orbita a federação do PMDB,
um aglomerado de líderes regionais que se prepara para assumir
dois ministérios no governo Lula.
Sarney é quem dá as cartas no
partido e quem negocia em seu
nome a escolha dos dois ministros. Se puder, indica o líder no
Senado, Renan Calheiros (AL),
muito embora o Palácio do Planalto tenha clara preferência pelo
nome do senador Pedro Simon
(RS) e até de Hélio Costa (MG).
Na Câmara, a coordenação é feita
pelo atual líder da bancada, Eunício Oliveira (CE), ele próprio um
forte candidato ao ministério.
O número de votos dados pelo
PMDB à reforma tributária fortaleceu Eunício. Na manhã de quinta-feira, José Dirceu (Casa Civil) e
Antonio Palocci (Fazenda) telefonaram para agradecê-lo. Precavido, Eunício prometera 52 votos.
Deu 70, numa bancada de 77 deputados, tradicionalmente dividida. Palocci brincou: disse que ele
vendia barato e entregava caro. O
líder respondeu que aprendera
com Palocci, que prometia um
superávit nas contas públicas menor e entregava um bem maior.
O parlamentar cearense -cunhado do novo embaixador brasileiro em Lisboa, Paes de Andrade- já havia sido um dos principais interlocutores do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu,
em dezembro de 2002, quando o
partido negociou pela primeira
vez sua entrada no governo Lula.
Naquela época, porém, o PMDB
estava muito mais dividido, o que
levou Lula a abortar a negociação.
Se a opção for Eunício, ficam
abertas as portas para o deputado
Michel Temer (SP) voltar à liderança do PMDB e para o ex-governador Orestes Quércia ocupar
seu lugar na presidência da legenda. Quércia, que a exemplo de
Sarney apoiou Lula na eleição de
2002, é outro nome em alta na
constelação peemedebista. Ele
pode fazer o deputado José Aristodemo Pinotti (SP), seu aliado,
ministro. O problema tem sido a
atuação do próprio deputado.
Voto contra
Pinotti não só foi contra à reforma da Previdência na Câmara,
como aproveitou uma rápida ausência de Eunício do plenário para encaminhar, em nome do partido, contrariamente a um dos
destaques. O episódio foi lembrado pelo próprio Lula na conversa
que teve semana passada com a
cúpula peemedebista no Senado.
Peças que vão se encaixando, a
volta de Quércia ao comando do
PMDB levaria a sigla a apoiar a
reeleição de Marta Suplicy em São
Paulo, talvez indicando o vice. São
os termos de um acordo entre o
ex-governador e o ministro José
Dirceu em torno da eleição para a
Prefeitura de São Paulo em 2004.
Os petistas acreditam que têm
bom trânsito com Quércia, suficiente para conseguir o apoio do
PMDB em São Paulo para Marta
sem a necessidade de entregar o
Ministério da Saúde a Pinotti.
O ingresso do secretário da Segurança do Rio, Anthony Garotinho, e de sua mulher, a governador Rosinha Matheus, por enquanto não alterou a atual correlação de forças no PMDB: eles
apoiaram a reforma tributária.
Receberam a promessa de antecipação no pagamento de royalties
do petróleo, apoio ao fundo da
combate à pobreza do Rio, além
de um tratamento especial na
questão da segurança na cidade.
No limbo desde que renunciou
ao cargo de senador sob acusações de corrupção, o ex-presidente da sigla Jader Barbalho (PA),
amigo de Sarney, também tem recebido suas deferências do governo Lula, como a indicação de diretores para cargos federais.
Muito influente no PMDB, Jader ajudou decisivamente o governo na votação da reforma da
Previdência, quando uma rebelião liderada por aliados do antigo
governo por pouco não tirou Eunício da liderança da bancada.
Já os peemedebistas que comandavam o partido durante o
governo tucano -apelidados no
partido de "viúvas de FHC"-
conseguiram míseros três votos
contra a reforma tributária -os
de Geddel Vieira Lima (BA), Alberto Fraga (DF) e João Corrêa
(AC). O isolamento desse grupo
pode ser medido pelo fato de que
até deputados historicamente ligados a FHC, como o ex-ministro
dos Transportes Eliseu Padilha
(RS) e o ex-assessor especial do
Planalto Moreira Franco (RJ),
desta vez votaram com o Planalto.
Mas Lula deve aguardar a votação em dois turnos das reformas
tributária e previdenciária para só
então realizar sua reforma ministerial, o que pode ocorrer entre
outubro e novembro próximos.
A reformulação do ministério
deverá ser significativa. As pastas
a serem destinadas ao PMDB devem provocar uma reordenação
na qual haja uma redução do número de petistas na administração. A presença de representantes
de aliados que votaram contra o
governo deve ser revista.
Colaborou PLÍNIO FRAGA, da Reportagem Local
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