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Cúpula do PT não crê que Gomes tenha participação
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As cúpulas do PT e do governo não crêem que o empresário
Sérgio Gomes da Silva seja
mandante do assassinato do
prefeito Celso Daniel, como denunciou o Ministério Público
paulista. Será uma surpresa a
eventual prova da culpa de Silva, dizem dirigentes do PT e
membros do governo, em conversas reservadas.
Não era segredo no PT o relacionamento próximo entre Daniel e Silva, amigos íntimos que
frequentemente saíam juntos.
Essa proximidade leva o PT a
duvidar da culpa de Silva. Os
petistas também vêem com
desconfiança novos depoimentos colhidos pelo Ministério Público.
"Como o Celso Daniel, o PT é
vítima desse crime. O PT apóia
as investigações para esclarecê-lo porque não tem nada a temer. O Sérgio Gomes da Silva
não é filiado ao PT", diz o presidente do partido, José Genoino. Entretanto, Genoino afirma que a nova investigação do
Ministério Público, que resultou na denúncia contra Silva,
desautoriza a investigação feita
pela Polícia Civil no ano passado, cujo inquérito concluiu se
tratar de crime comum.
Para o Ministério Público
paulista, Daniel teria sido morto por tentar desmontar suposto esquema de corrupção na
Prefeitura de Santo André, do
qual Silva seria beneficiário. Na
denúncia dos promotores, Silva teria encenado o sequestro.
Seu advogado diz que a denúncia é "vazia" e que deverá ser
rejeitada pela Justiça.
Segundo petistas, Sérgio Gomes da Silva, na época do crime, estava feliz com o convite
feito a Daniel para coordenar o
programa de governo de Luiz
Inácio Lula da Silva, numa
campanha que o partido julgava a mais bem preparada para
disputar a Presidência.
Na noite do sequestro de Daniel, em 18 de janeiro de 2002,
Silva e o prefeito tiveram um
jantar para comemorar a indicação à missão eleitoral. Daniel, que coordenou durante algum tempo o grupo de economistas do PT, era tido como
nome certo para o primeiro escalão do governo Lula. Silva sabia disso e, segundo petistas,
não faria sentido se envolver na
morte de um prefeito que poderia virar ministro.
O substituto de Daniel foi
Antonio Palocci Filho, então
prefeito de Ribeirão Preto (SP),
hoje ministro da Fazenda.
Em relação aos novos depoimentos colhidos pelo Ministério Público, as cúpulas do PT e
do governo vêem com desconfiança alguns pontos. Exemplo:
a versão de que Silva teria contratado Dionízio Severo, um
dos criminosos que teriam participado do sequestro e do assassinato. Severo morreu na
prisão em abril de 2002.
José Cicote, vice de Daniel no
primeiro mandato do petista
(1989-1992), diz ter visto Severo
duas vezes na Prefeitura de
Santo André. Cicote, segundo a
cúpula petista, transformou-se
em inimigo de Daniel e Silva.
A Folha apurou que petistas
que atuaram na administração
de Santo André, como o atual
chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, e a assessora
especial do presidente, Miriam
Belchior, nunca viram Severo
na prefeitura e indagaram a colegas se o conheciam. Ouviram
que ninguém o conhecia ou o
vira. No mês passado, Carvalho
se reuniu com promotores para uma conversa informal a
respeito dos novos depoimentos colhidos pelo Ministério
Público.
Na cúpula do PT, considera-se frágil o depoimento do preso
Ailton Alves Feitosa, que disse
que ouviu Dionízio Severo falar
do sequestro e da morte de um
"peixe grande".
Para petistas, novos depoimentos colhidos como forma
de trocar colaboração por
abrandamento de pena devem
ser avaliados com cautela.
Feitosa e Severo foram companheiros de fuga da cadeia de
Guarulhos na véspera do sequestro de Daniel. Entre os dias
18 e 20 de janeiro de 2002,
quando o corpo do prefeito foi
encontrado, Feitosa e Severo
estavam foragidos juntos.
Para dirigentes do PT, é "espetaculosa e conspiratória" a
tese de que Sérgio Gomes da
Silva se envolveu com Feitosa e
Severo. Petistas afirmam que
Silva conhecia em detalhes a
rotina de Daniel, que frequentemente dirigia sozinho seu
carro, e que seria mais simples
para ele eliminá-lo do que participar diretamente de uma encenação.
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