|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JUROS
Lula chega a acordo com Alencar sobre críticas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de duas semanas de altos e baixos num relacionamento
que até agora havia sido bom, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice José Alencar, chegaram
a um acordo para diminuir as críticas do número 2 do governo à
política econômica.
Alencar deverá diminuir, aos
poucos, o tom duro de seu discurso contra os juros altos. Em troca,
Lula disse aos principais auxiliares que terão de conviver com
Alencar e seu estilo, já que ele foi
eleito e não é demissível.
Lula e seus assessores, porém,
não têm segurança sobre o comportamento do vice. Em outras
oportunidades, ele já havia indicado que baixaria o tom de suas
críticas, só que tomou exatamente
o caminho contrário.
Caso José Alencar retome as críticas, Lula e alguns assessores
acreditam que o melhor caminho
será deixá-lo "falar sozinho". Os
que defendem essa linha lembram que o mercado já não leva
em conta as críticas do vice-presidente, por ter percebido que ele
não tem nenhum poder sobre a
política econômica.
O petistas temiam também que
os insistentes ataques do vice acabariam desgastando o presidente,
enquanto José Alencar ficaria
com a imagem de defensor dos juros baixos. Esse temor diminuiu
com a divulgação de pesquisa
mostrando que melhorou a popularidade do presidente.
A leitura dos dados é que Lula
não só manteve, como melhorou
sua imagem, exatamente por ter
conseguido controlar o processo
inflacionário. O desgaste viria se a
inflação estivesse em alta. O resultado fortaleceu o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Outro comentário dentro do
governo é o fato de o próprio grupo do vice-presidente, o meio empresarial, não estar totalmente fechado com o estilo dele.
Na semana passada, chegou a
ser ensaiada por empresários
uma campanha pela internet em
defesa do vice-presidente. O resultado, porém, não foi de total
apoio ao dono da Coteminas.
O presidente Lula chegou a receber mensagens de empresários
dizendo que são contra os juros
altos, mas afirmando que não
concordam com o comportamento do vice, que prejudicaria o
governo no combate à inflação.
Estaria afastada, na opinião de
assessores de Lula, uma união das
grandes lideranças empresariais
em torno do vice para pressionar
publicamente o Banco Central a
baixar os juros.
Dentro do governo, a pergunta
que se fazia era que motivos levaram o vice a fazer seus ataques.
Um sempre lembrado é o político:
José Alencar planeja disputar o
governo de Minas no futuro.
Estratégia
Mantendo sua campanha contra os juros altos, ele estaria fortalecendo sua imagem pública como um defensor não só dos empresários, mas também dos trabalhadores, por causa do aumento
do desemprego.
Alguns assessores do presidente
chegaram a levantar a hipótese de
José Alencar estar contrariado
com o governo. Por várias razões.
Uma delas seria a informação de
que assessores de Lula se preparavam para retaliá-lo, divulgando
dados negativos sobre sua empresa à imprensa.
Auxiliares do vice afirmam que
essa tática já teria sido usada
quando ele se reuniu com Palocci
no Ministério da Fazenda, levando junto um balanço de sua empresa, a Coteminas.
Outra razão para o vice estar
chateado seria o fato de não participar das decisões de governo. Foi
assim nas críticas à reforma tributária, quando não foi chamado a
dar sua opinião. Para contornar
esse problema, Lula decidiu dar
tarefas de governo a Alencar.
O próprio vice-presidente confidenciou anteontem que pretende começar a falar de outros assuntos. Saindo de campo de forma nem tão apressada, que pareça recuo, nem tão vagarosa, que
pareça provocação.
(VALDO CRUZ e KENNEDY ALENCAR)
Texto Anterior: Previdência: Reforma provoca corrida de servidores à aposentadoria Próximo Texto: Janio de Freitas: Vinte anos Índice
|