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"Fase dois" ainda é possível, rebate cientista político
DA REPORTAGEM LOCAL
Para o cientista político Fábio
Wanderley Reis, professor da
UFMG (Universidade Federal de
Minas Gerais), ainda é cedo para
afirmar taxativamente que o governo Luiz Inácio Lula da Silva
não fará mais que aprofundar o
projeto de Fernando Henrique
Cardoso. O jogo não acabou, ele
diz, porque até aqui não poderia
ser jogado de outra forma.
Folha - O que o sr. pensa dos argumentos apresentados por Francisco de Oliveira e Paulo Arantes?
Fábio Wanderley Reis - Eu não
vejo razão para que, tão precocemente, se tenha uma avaliação tão
taxativa a respeito da possibilidade da chamada fase dois ou de
uma reorientação no rumo do governo. Eu concordo com a idéia
de que, obviamente, não se trata
de engambelar os investidores internacionais durante alguns meses e depois fazer a revolução, dar
uma guinada de 180 graus e ir na
direção oposta.
O espaço de manobra é efetivamente estreito, mas, por outro lado, uma política de arrumação da
casa bem sucedida pode sim abrir
espaços para esforços que sejam
eventualmente bem sucedidos.
Folha - Como?
Reis - As reformas, em particular, me parece que são um ponto
de inflexão, no qual você pode
juntar algo que é percebido positivamente pelo ambiente financeiro internacional e que, por outro
lado, pode também ser deflagrador de algo positivo no sentido de
criar um governo com maiores
recursos, com melhores condições fiscais, com melhores condições de atuação eficiente na faixa
social.
Folha - Dentro do prazo de um
mandato dá para escapar à mera
continuidade do governo Fernando Henrique Cardoso?
Reis - Sim, dá para escapar, no
sentido de pelo menos começar
uma dinâmica diferente. E deflagrar um processo que possa ser
mais consistente do que coisas
meramente simbólicas como o
Fome Zero ou o que for.
Folha - Há recursos para crescimento?
Reis - As condições são, sem dúvida, difíceis. Seguramente há
constrições que impõem que se
conte com poupança externa.
O ponto fundamental em relação à avaliação dessa posição que
foi manifestada é de que você não
dispõe de outra alternativa. Um
governo Lula que começasse tentando fazer o que quer que fosse
de diferente dessa administração
da crise que já vinha, dessa arrumação da casa, teria criado uma
catástrofe. Havia uma imposição.
Nós estávamos dentro de uma
emergência muito clara, o país estava caminhando para uma crise
séria. Não faz sentido dizer que o
jogo acabou, sugerindo que o jogo
poderia ser jogado de outra maneira, quando isso não é verdade.
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