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ELEIÇÕES 2004/GEOGRAFIA DO VOTO
Estudo mostra que porcentagem de votos não válidos diminuiu em bairros de menor média escolar de SP com votação computadorizada
Urna eletrônica ajuda menos escolarizados
DA REDAÇÃO
Atacada em sua implantação
-quando se falou em fraudes e
do impacto da exclusão social no
voto-, a urna eletrônica se redimiu: além de diminuir a quantidade de votos não válidos, dado já
conhecido, agora se sabe, em São
Paulo, onde a redução foi maior:
nos locais que possuem as menores médias de escolaridade do
chefe de domicílio.
O dado é de uma pesquisa do
Centro de Estudos da Metrópole
do Cebrap (Centro Brasileiro de
Análise e Planejamento), que ainda está em curso.
Com base na comparação entre
as votações para governador na
cidade em 1994 -a urna eletrônica não havia sido implantada- e
em 1998, já com o novo equipamento, o estudo mostra que a melhora percentual dos índices de
votos válidos foi tanto maior
quanto menor são os índices de
escolaridade da região. Um mapa
foi construído cruzando dados
dos distritos censitários com as
informações da Justiça Eleitoral.
No geral, de uma eleição para
outra, o voto não válido (reúne
brancos e nulos) caiu de 19,07%
para 10,53% do total -quase a
metade.
Tendo às mãos o desenho do
voto gerado pela pesquisa vê-se
que em Parelheiros (extremo sul
da cidade), de 94 para 98, o voto
não válido recuou 17 pontos percentuais. No Itaim Bibi, área de
elite, a redução não chegou a 1
ponto percentual na comparação
(leia quadro nesta página).
No primeiro bairro, a média de
anos de estudo do chefe da família
é de apenas 5,45 anos. No distrito
mais rico, 12,45 anos. A média da
cidade é de 8,1 anos.
Para o cientista político Fernando Limongi, que orienta a pesquisa no Cebrap, as razões estão na
dificuldade do uso da cédula convencional. Sem cores ou qualquer
símbolo de identificação -só
com palavras e números- o papel era um obstáculo para o eleitor menos escolarizado. "Nós fomos atrás da pista lançada por Jairo Nicolau e vimos o que aconteceu em São Paulo", diz.
Limongi faz referência ao trabalho do cientista político do Iuperj,
que em 2002 publicou "História
do Voto no Brasil" (Editora Jorge
Zahar). Lá, Nicolau ligava a quantidade de votos não válidos à dificuldade de votar, e não só à descrença no sistema político.
"Antes, não se prestava atenção
nisso. Agora vamos olhar outros
países, sobretudo os com nível de
escolaridade como o nosso, e vemos como o nosso modelo era
complicado. Eles recorrem a cores, a símbolos", compara Limongi.
Antecedentes
Até chegar à instalação universal da urna eletrônica, em 2000, o
voto no país passou por várias fases. Até a década de 50, não havia
sequer a cédula oficial. Cada eleitor tinha de levar a sua própria para votar. "O santinho do candidato é que virava a cédula. Isso facilitava muito o chamado voto de cabresto. O eleitor votava em um
partido só de alto a baixo", explica
o pesquisador. Com a padronização -e a dificuldade- o Brasil
virou um um dos campeões mundiais do voto não válido. Segundo
dados de Nicolau, a média de votos anulados nas quatro eleições
legislativas pós-regime militar
(86, 90, 94 e 98) é de 33% -a média de outras democracias com
voto obrigatório é de 7%.
Em São Paulo, em 98, já com o
equipamento, a eleição para deputado federal teve 14,35% dos
votos não válidos.
(FLÁVIA MARREIRO)
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