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PODER PARALELO
Pesquisa mostra que traficantes conseguem assumir poder de fato nas periferias de São Paulo e do Rio
Unesco aponta elo entre tráfico e violência
DA AGÊNCIA FOLHA
Apesar das diferenças encontradas pelo estudo da Unesco
quanto à estruturação do tráfico
em São Paulo e Rio de Janeiro, em
nenhum dos mercados foi possível determinar com clareza como
é feito o comando na ponta inicial
da hierarquia dos traficantes.
A pesquisa, baseada em análises
distintas nas duas cidades, mostra
o tráfico de drogas diretamente
relacionado à violência, especialmente aos casos de homicídio.
São nos bairros e áreas mais periféricas, em que Estado se mostra
menos presente, que os traficantes conseguem transformar sua
superioridade econômica em poder de fato e, por meio de repressão armada, dominam a vida social de comunidades inteiras.
Para o coordenador-geral do estudo, Michel Schiray, "apesar de
casos fantásticos como o do [traficante Luiz Fernando da Costa]
Fernandinho Beira-Mar, é muito
difícil se chegar às responsabilidades altas pelo tráfico e mostrar as
implicações acima do morro".
Schiray aponta diferenças na estrutura dos mercados paulista e
carioca. Segundo ele, a lógica de
São Paulo segue o modelo liberal
clássico, com vários vendedores e
consumidores. "O tráfico é menos
sistemático do que no Rio."
O pesquisador Guaracy Mingardi identifica três principais níveis de traficantes no Estado: médios, pequenos e minitraficantes,
presentes principalmente na cracolândia (região de consumo de
crack no centro da cidade). A classificação policial varia de grande a
pequeno traficante.
A maconha vem principalmente do Paraguai e do Nordeste e a
pasta de coca, em pequenas quantidades, do Paraguai ou Bolívia. A
maioria da cocaína em pó que entra no Estado é transportada para
o exterior por grupos internacionais para a África e a Europa.
Já o estudo da professora da
Uerj (Universidade Estadual do
Rio de Janeiro) Alba Zaluar faz
uma análise mais antropológica
da estruturação do tráfico no Rio.
Ela mostra a hierarquia do tráfico
no varejo, com forte dominância
do grande traficante sobre as instâncias inferiores.
"As taxas de homicídios cresceram barbaramente na periferia
nos últimos anos. Isso não pode
ser explicado pela migração, que
na década de 60 já estava baixando, nem pela pobreza, que não
aumentou dessa maneira no mesmo período. Os traficantes impõem sua força, tanto em São
Paulo quanto no Rio." Para Alba,
o crime organizado encontra no
desenvolvimento da economia
informal, inclusive do mercado
de vendedores ambulantes, condições para crescer nas zonas
mais pobres, como perspectivas
de poder e dinheiro para o jovem.
Redes internacionais
Diante das dificuldades em
identificar a utilização do território brasileiro por redes internacionais de tráfico de drogas, normalmente dados sobre movimentação financeira fornecem os melhores indícios sobre a influência
do crime nas economias locais.
No Amazonas, Acre e em Rondônia -fronteiras de grandes
produtores de cocaína, como Colômbia, Peru e Bolívia-, o incremento do tráfico a partir dos anos
80 é analisado na pesquisa da
Unesco, que partiu do aumento
de 76% das agências bancárias.
De 81 a 85, foi registrado um
crescimento de 38% nas filiais
bancárias no Amazonas, 82% no
Acre e 173,5% em Rondônia. O
período corresponde à duplicação da produção da droga nos três
países produtores, gerando operações de dinheiro possivelmente
para financiar atividades de tráfico e lavar benefícios.
(AC)
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