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No MA, comunidade quilombola tem 1º candidato 130 anos depois
Artesã de Itamatatiua concorrerá a vaga na Câmara Municipal de Alcântara
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A ALCÂNTARA (MA)
Formada por descendentes
de uma escrava "doada como
esmola" à igreja local, segundo
contam seus moradores, a comunidade quilombola de Itamatatiua, em Alcântara (MA),
lança uma representante numa
campanha política 130 anos depois de sua formação.
Nascida na comunidade, a
agricultora e artesã Marinete
Conceição de Jesus é candidata
à vereadora pelo PDT. Se eleita,
promete apoiar o povoado onde moram cerca de 170 famílias. Para Marinete, a prefeitura
pouco faz pelos moradores.
A comunidade sobrevive da
agricultura e do artesanato de
peças de cerâmica, moldadas
por um grupo de mulheres.
Distante mais de 70 km do
centro de Alcântara, Itamatatiua não tem nem sequer posto
de saúde. Paredes de barro dão
forma às casas, muitas delas
com telhado de palha, distribuídas em rua de terra batida
onde transitam porcos e bois.
O município de Alcântara,
segundo a Fundação Cultural
Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura, concentra o
maior número de comunidades
quilombolas certificadas do
Brasil: 156. Ao todo, são 1.252
no país. Não existem estatísticas sobre número de habitantes nas comunidades.
Um dos moradores mais antigos de Itamatatiua, com idade
"entre 80 a 90 anos", como ele
mesmo diz, Cândido dos Santos de Jesus não tem muita esperança em políticos, embora
tenha pendurado na parede de
sua casa, do lado de fora, os cartazes de propaganda dos três
candidatos que disputam as
eleições em Alcântara.
"Eles só aparecem aqui na
época da eleição", afirma Cândido, avô de Marinete.
Convidada pelo candidato a
prefeito Pastor Pedro (PDT) a
disputar as eleições de 2008,
Marinete espera não se decepcionar com a política. "Pedi para ele, se eleito, não sumir", diz.
Em campanha ela percorre
as comunidades quilombolas
próximas e fixa o cartaz com
sua imagem ao lado do pastor.
Para a artesã Eloisa Inês de
Jesus, 54, indicada pela comunidade para contar a história do
povoado, a esperança é Marinete. Eloisa reclama que a comunidade recebe mais atenção dos
governos federal e estadual.
"Falta incentivo da prefeitura
para a nossa produção. Eu sou
desempregada. Só vivo de artesanato", desabafa.
Foguetes
Os professores quilombolas
do povoado de Cajueiro, Luiz
Diniz, 60, e Raimundo dos Remédios, 38, dizem que os assuntos relacionados às comunidades passam ao largo da
campanha eleitoral.
Há 22 anos, Diniz, sua família
e demais membros da comunidade foram retirados da área
onde vivem para dar lugar ao
CLA (Centro de Lançamento
de Alcântara), da Aeronáutica.
Diniz afirma que atualmente
a comunidade, situada a 15 km
do centro de Alcântara, tem
277 pessoas. Falta terra para
plantar, segundo ele. "Recebemos pequenas indenizações
[do CLA] em 1986. Ainda não
temos os títulos de posse das
terras. Alguns sequer receberam a indenização".
A Folha procurou a assessoria de imprensa da Aeronáutica, mas não obteve resposta.
As comunidades quilombolas geralmente vivem da agricultura e da produção de farinha de mandioca.
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