|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Contrários, mas favoráveis
A volta da inflação, já outra
vez acima dos 10%, ao fim de
oito anos de Brasil sacrificado a
pretexto de liquidá-la, é atribuída
a Luiz Inácio Lula da Silva: o que
trouxe de volta a inflação foi a retomada da alta do dólar, por sua
vez provocada pela demora de divulgação do futuro ministério e
do presidente do Banco Central.
Mesmo a porta-bandeira, na
mídia, das políticas fernandistas
de todo o poder ao "mercado", reconhece: "No dia 30 de novembro
de 1994, o presidente eleito Fernando Henrique anunciou os nomes de Pedro Malan, para o Ministério da Fazenda, e de Pérsio
Arida, para presidente do Banco
Central. Fora eleito no dia 3 de
outubro e demorara 57 dias para
fazer o anúncio. Lula foi eleito há
39 dias e está sendo tratado como
se estivesse atrasadíssimo no processo de montagem do novo governo" (Míriam Leitão, "O Globo", anteontem).
O dólar voltou a subir porque
voltou a especulação tal qual
ocorrera na campanha eleitoral,
lançada pelo próprio presidente
do Banco Central, Armínio Fraga, com o anúncio intempestivo
de que o governo quitaria, em vez
de prorrogar, os títulos cambiais,
que são corrigidos pelo valor médio do dólar nos três dias anteriores ao vencimento. Em vez de Armínio Fraga, o candidato Lula da
Silva foi responsabilizado, em todos os jornais, TVs, revistas e rádios, pela alta do dólar e suas consequências.
Por mais que haja interessados,
não pode haver especulação se
não houver quem a alimente. Antes da eleição, agora e no futuro. E
quem a alimenta é a mídia. Sobretudo os jornais, que no Brasil
se põem como porta-vozes diários
dos economistas e administradores do sistema financeiro, que faz
fortunas cotidianas com jogadas
na moeda e nas bolsas. Todos os
dias se pode ler ou ouvir punhados de economistas obscuros ou
desqualificados, mastigando os
seus jargões em agressão ao idioma e à inteligência: mais do que
admitidos, são bem-vindos, são
solicitados pelos jornais e certas
rádios. O jornalismo que condena
a inflação e a especulação é o
mesmo jornalismo que, por outra
via, as alimenta.
Autoconvidados
Não bastando os escolhidos que
certos jornalistas inventam, pelo
vício do chute impune ou para
responder à pressão das chefias
por informações no entanto inexistentes, a cada dia cresce o número dos adeptos de nova e intensa atividade. São os que distribuem, a ouvidos predispostos, a
confidência de um convite ou
sondagem para assumir esse ou
aquele cargo.
Vários logo chegam aos jornais.
Mas o objetivo não é necessariamente esse. As confidências são
inventadas com o destino certo de
criar ou recompor prestígios junto
a determinados lugares e pessoas.
Os autores passam a ser vistos como pessoas "próximas dos homens", o que abre muitas portas.
Só a lista dos autoconvidados
para presidir o Banco Central encheria toda esta coluna.
Improbidades
Há tão poucos meses atrás, algum petista entraria logo com
ação judicial contra o gasto de R$
4 milhões dos cofres públicos em
propaganda, na TV, informando
que Fernando Henrique obteve
um prêmio na ONU. A legislação
proíbe o uso de dinheiro público
em propaganda que beneficie o
governante.
É por essas e centenas de outras
que Fernando Henrique faz todos
os esforços possíveis, não importa
o grau de legitimidade, para obter
foro privilegiado nos processos
por improbidade contra contra
governantes e ex-governantes.
Facilitar ou não dificultar a
aprovação desse foro inconstitucional foi, aliás, um dos dois pedidos de Fernando Henrique a Lula
da Silva, quando o convidou ao
palácio e ofertou-lhe uma transição amigável. Amigável, bem entendido, de parte a parte.
O outro pedido foi, não se sabe
por quê, a permanência de José
Gregori na Embaixada em Portugal.
Texto Anterior: Congresso e TCU querem R$ 36 mi para fazer obras Próximo Texto: Televisão: Polêmicos, hoje "Os Simpsons" chegam ao país Índice
|