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BRASIL PROFUNDO
Trabalhador pensava ser parente do petista
Polícia liberta "primo" de Lula que fazia trabalho escravo em Rondônia
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Edejasme Correia da Silva, 62,
foi libertado terça-feira com outras 35 vítimas de trabalho escravo numa fazenda dos confins de
Rondônia. Com muita simplicidade, ele disse aos fiscais do Ministério do Trabalho que acreditava ser primo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. O
que não se confirmou.
Além do Silva no sobrenome, o
que não chega a ser um diferencial muito sólido, Edejasme nasceu em Garanhuns (PE), nas imediações de Caetés, cidade do presidente eleito, e tinha um primo
mais moço, também apelidado de
Lula e que emigrara com a família
para São Paulo.
O fato é que tantas coincidências deixaram perplexos os fiscais
e os agentes da Polícia Federal que
irromperam na propriedade da
Agropecuária Corumbiara, localizada no km 110 da Rodovia Estrada Vicinal Usina do Álcool.
O local, no município rondoniano de Pimenta Bueno, fica a
450 km ao sul de Porto Velho e a
cerca de 40 km da fronteira da Bolívia. Nos últimos sete anos, equipes de fiscalização libertaram
mais de 4.600 trabalhadores em
condição assimilada à escravidão.
"Eu pensei que era ele, o Lula",
disse Edejasme por telefone à Folha, sem evocar o suposto parentesco para obter vantagens.
O fato é que Edejasme perdeu
há coisa de dez anos todos os documentos. Não sabia como se
identificar. Disse aos fiscais que o
resgataram ser filho de Maria Tereza da Conceição e de Manuel
Correia da Silva.
Em São Paulo, contatado pelo
jornal, Genival Inácio da Silva, 62,
o Vavá, um dos 15 irmãos de Lula
ainda vivos, disse desconhecer esses dois nomes. O lado Silva da família veio com a prole de Guilhermina, mãe de Aristides -pai do
presidente eleito, que morreu em
1978- e de seis outros filhos naturais e mais dois adotivos.
A linhagem de Edejasme tem
outra origem no interior pernambucano. Veio dos avós Laurentino Correia da Silva e da avó Maria
Terezinha Leopoldino, também
desconhecidos de Vavá, o irmão
de Lula de boa memória.
Miséria
Desfeito o mistério, a história de
Edejasme perdeu a singularidade,
mas manteve intactos seus componentes de miséria.
As coisas começaram a não dar
certo quando ele tinha por volta
de dez anos. Quase se afogou, mas
preserva sequelas do acidente.
"Fiquei frouxo, vermelho, com
febre. Minha idéia se afastou da
mente", diz ele. Tomou chá de folhas de uma curandeira. Mas já
não servia para os estudos. Concluiu só o segundo ano primário.
Nunca se casou. Chegou a São
Paulo em 1952. Foi estafeta e auxiliar de cozinha. Trabalhou numa
padaria próxima à praça da República. Aos 18 anos mudou-se para
Mato Grosso. Em 1985, tenta sem
sucesso obter emprego em São
Paulo. É recrutado por um "gato"
(aliciador de mão-de-obra escrava) para o interior de Rondônia.
Estava há dois anos na fazenda
da qual foi agora resgatado. Morava com companheiros num
barracão sem água ou instalações
sanitárias. Não tinha registro profissional e não era remunerado
em dinheiro. Recebia cupons, trocados por comida no mercado
mais próximo. Não tem mais família ou referência geográfica.
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