|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DENTRO DA TRANSIÇÃO
Documentos da equipe de transição identificam "esqueletos no armário" e "bomba de tempo" para futuro governo
"Torpedos" prevêem "armadilhas" para Lula
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A equipe de transição petista
prepara o caminho do presidente
eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, ao
Planalto classificando os problemas que encontra nas seguintes
categorias: "bomba de tempo",
"armadilha", "esqueletos no armário". O roteiro consta de documento intitulado "Torpedos/
Vulnerabilidades".
No Centro de Treinamento do
Banco do Brasil, onde funciona a
sede dos trabalhos da equipe de
transição, o grupo cuida de prevenir prejuízos à imagem do governo petista e do presidente. Além
disso, o roteiro sugere que a equipe de transição tente dimensionar
o "estrago que [o problema" pode
causar" e aponte "ações para evitar sua ocorrência".
Cópia do formulário foi encontrada no lixo do escritório da transição pela Folha. O conjunto de
documentos encontrados lá durante oito dias revela que os técnicos do PT fizeram muito mais do
que levantar informações sobre a
gestão de Fernando Henrique
Cardoso.
As rígidas regras impostas ao
grupo, sempre despachadas em
"instruções" numeradas, dão pistas de como funciona a "lei do silêncio" decretada pelo coordenador da equipe de transição, Antônio Palocci Filho, para a rotina da
equipe de 77 pessoas que trabalham na transição desde seis de
novembro.
Lacrar portas
A instrução número quatro descreve a "norma especial de segurança das salas", parte das diretrizes para preservar o sigilo no QG
petista. Em seis itens, há comandos para trancar janelas, lacrar
portas com etiquetas numeradas,
rubricadas e conferidas pela segurança no dia seguinte.
Retornar ao prédio depois de
encerrado o expediente ou nos finais de semana, só com autorização da "autoridade" competente.
Nesse caso, a etiqueta deve ser
substituída e a abertura do lacre,
formalmente comunicada à coordenação da transição.
A série de "instruções" também
detalha procedimentos para que a
equipe receba ressarcimento por
despesas -em 72 horas-, como
proceder em caso de viagem e os
documentos necessários para que
os integrantes da equipe sejam
formalmente contratados como
servidores da Presidência.
Um bilhete rápido informa que
um convênio com a Academia de
Tênis permitirá aos integrantes da
transição lá hospedados jantar
por R$ 15.
Despesas
A coordenação administrativa
também fez alguns exercícios matemáticos sobre os gastos da transição. Somando-se os meses de
novembro, dezembro e janeiro
(dias), estadias, cafés da manhã,
passagens aéreas e "gastos com
atividades emergenciais" devem
somar R$ 754.394,08.
O valor é dividido. O PT banca,
segundo o documento, R$
320.602,48. Para a Presidência ficam os R$ 445.720,44 restantes.
Pelos números oficiais da Casa
Civil, a transição custou aos cofres
públicos, até o dia 28 de novembro, R$ 244.916,60.
A equipe de transição investiu
tempo rasgando papéis. Usaram
trituradores para apenas parte
dos documentos.
Mas a garimpagem -buscando
documentos entre embalagens de
chocolates, copos de café, tocos de
cigarro, restos de frutas e sanduíches -e quase dois rolos durex
para juntar as peças permitiram
reconstruir, por exemplo, partes
de seis relatórios com a análise da
equipe de transição sobre a gestão
de Fernando Henrique Cardoso.
Auto-ajuda
Pela quantidade e regularidade,
chamaram a atenção no lixo as
mensagens religiosas, de otimismo e de auto-ajuda distribuídas
pela secretária Solange de Souza.
Em 28 de novembro, Solange finaliza seu texto, um comentário
sobre passagens bíblicas, da seguinte forma: "Temos um excelente dia, e saúde é o que interessa,
o resto... ah, o resto com certeza é
muito mais fácil de correr atrás.
Acreditem. Beijos".
Em 5 de dezembro, ela começa:
"Não sejamos frustrados e sem
paz. Por toda a parte, podemos
ver como falta de caridade tem
tornado o homem miserável, como originou o mundo desordenado e sem esperança. [...] Eu sou
o melhor, eu e eu".
Junto com as mensagens de Solange, escaparam do triturador
listas de telefonemas recebidos
por Antônio Palocci, sua declaração de Impostos de Renda de 2001
e um ofício, de 5 de dezembro,
agradecendo ao economista-chefe do Citibank, Carlos Kawall Leal
Ferreira, o envio de documentos
solicitados.
A agenda do presidente do PT,
deputado José Dirceu (SP), que
despacha no escritório de transição de terça a quinta-feira, foi parcialmente preservada.
Também entre os documentos
encontrados estão algumas contribuições enviadas à transição. O
"Caderno de Resoluções do 28º
Congresso Nacional da CNTE
(Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação)", encaminhado pela presidente da entidade, Juçara Vieira, foi inteirinho
para a lata de lixo.
Texto Anterior: Brasil profundo: Polícia liberta "primo" de Lula que fazia trabalho escravo em Rondônia Próximo Texto: Gushiken mapeia 22 mil cargos federais Índice
|