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Ofício cita "trânsito fácil" no STJ
DA REPORTAGEM LOCAL
Um processo administrativo da
Prefeitura de Natal (RN) documentou o que ela levou em conta
na hora de contratar um ex-ministro do STJ para atuar como advogado numa causa de interesse
da prefeitura no tribunal: o "trânsito fácil perante o Superior Tribunal de Justiça".
O processo, de 1998, tratava da
dispensa de licitação para a contratação pela prefeitura do ex-ministro Francisco Cláudio de Almeida Santos, 67. O contrato original previa gastos de R$ 200 mil,
mas o ex-ministro recebeu cerca
de R$ 40 mil.
A prefeitura queria derrubar, no
STJ, a obrigação de pagar uma indenização ao empresário Farouk
Husseini, 62 -hoje avaliada em
R$ 40 milhões- pelo embargo da
construção de um hotel na praia
de Ponta Negra (RN). A prefeitura teve a vitória no STJ em dezembro de 1999, com uma liminar.
Após ter obtido vitórias no Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Norte e ser derrotado no STJ,
Husseini apurou que o advogado
e ex-ministro Cláudio Santos e o
ministro relator do processo, Sálvio Figueiredo Teixeira, foram
contemporâneos no STJ. Eles se
tornaram ministros no mesmo
dia, 18 de maio de 1989.
Hussein decidiu criar um site
sobre o seu processo. Nele, anotou as vezes em que Santos e Figueiredo atuaram juntos na época
do STJ e concluiu que "se não há
uma identidade de pensamento
[entre os então ministros", pelo
menos há uma grande afinidade
entre a maneira de pensar de um e
a maneira de pensar do outro".
O então procurador da prefeitura em 1998, hoje procurador-geral
do município, Flávio de Almeida
Oliveira, 32, foi o autor do ofício
que citou o "trânsito fácil". Localizado pela Folha, explicou assim
sua definição: "Trânsito fácil é a
pessoa que conhece o juiz, sabe
quem são os assessores, os funcionários, que possa exercer efetivamente o papel de advogado em
termos de melhoria no desempenho do processo, em termos de
aceleração dos procedimentos".
Oliveira exemplificou: "Você [o
advogado" vai pedir uma audiência com o juiz, no Supremo Tribunal Federal, por exemplo. Eu vou
ter uma dificuldade, porque ninguém me conhece e nem eu conheço ninguém. Entendeu? Uma
pessoa de lá [de Brasília] conhece
todo mundo, onde fica a secretaria... Não significa nenhuma influência nos julgamentos, porque
nós não trabalhamos assim".
O ex-ministro Cláudio Santos
qualificou de "infeliz" a expressão
"trânsito fácil". Sobre as críticas
de Husseini, Santos disse que pertenceu à 3ª Turma do STJ, enquanto o colega Sálvio Figueiredo
pertencia à 4ª Turma. "Apenas
eventualmente, duas vezes por
mês, havia algumas votações em
que atuávamos juntos", disse
Santos. Segundo ele, a concordância de pontos de vista entre ele
e o ministro Figueiredo ocorreu
quase sempre "em questões simples". "Se a gente fosse divergir
em toda votação, a pauta de julgamentos não andava nunca".
A assessoria do STJ informou
que o tribunal preferiu não comentar o assunto.
O ministro Sálvio Figueiredo
não foi localizado.
(JD e RV)
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