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Paulo Costa Leite defende sua atuação no STJ após aposentadoria
Ex-ministro diz que não pode ser comparado a um "safado"
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Paulo
Costa Leite, 54, se aposentou há
menos de um ano e advoga em
mais de 20 ações no tribunal.
"Você não pode comparar alhos
com bugalhos. Não pode comparar uma pessoa que tem 30 anos
de formado, que foi presidente do
STJ, como eu fui, com um menino, filho de não sei quem, que é
safado. É diferente", afirmou, referindo-se às denúncias de tráfico
de influência que estão sendo
apuradas no STJ.
Após deixar o tribunal, em 2002,
quando se tornou pré-candidato
a vice-presidente da República
pelo PSB, Costa Leite se impôs um
quarentena de quatro meses "para evitar que houvesse qualquer
tipo de cobrança ou crítica".
O ex-presidente do STJ disse
que já atuou, como advogado, em
processo no qual três "amigos"
seus ministros votaram contra
sua posição. "Cada um tem a sua
convicção." Leia a entrevista.
Folha - O que o sr. acha da atuação de ministros aposentados nas
cortes em que trabalhavam?
Paulo Costa Leite - O ministro
aposentado continua sendo um
profissional. Eu sou um bacharel
em direito, sou advogado. Pelo fato de me aposentar, no meu caso,
por exemplo, com 53 anos, fico
condenado a não exercer mais a
minha profissão? Não pode ser.
Mas acho que quem advoga não
deve frequentar o tribunal a não
ser na sala de sessões e nos gabinetes para levar o memorial
quando tiver o julgamento.
Folha - Há outro tipo de frequência?
Costa Leite - Tem a sala de aposentados e o lanche que o aposentado pode frequentar [onde também vão ministros da ativa". Mas
essas prerrogativas dizem respeito a aquele aposentado que não
está no exercício da advocacia.
Quem está no exercício deve ser
tratado como advogado e não como ministro aposentado.
Folha - O sr. comparece a essas
reuniões e lanches?
Costa Leite - Não. Se eu quiser,
posso ir. Eu, por exemplo, que advogo, não compareço. Justiça seja
feita com todos os aposentados:
desconheço quem esteja advogando que compareça. Quem
comparece é ministro que se aposentou e que está inativo.
Folha - O sr. é a favor da quarentena para quem deixa o tribunal?
Costa Leite - Sou a favor. Mas
sempre é uma questão difícil de
mensurar. Aos juízes pouco importa quem esteja postulando.
Aceito a idéia da quarentena porque acho que é importante para as
pessoas que estão de fora. É mais
para proteger os juízes das pessoas que estão fora que formam
um conceito equivocado.
Folha - Mas não seria melhor
atuar em outro tribunal?
Costa Leite - Mas, no meu caso,
que moro em Brasília, onde vou
atuar? Se eu não atuar no Supremo e no STJ, é melhor fechar o escritório. Na causa mais importante que tenho no STJ, os meus três
amigos votaram contra mim. São
do Rio Grande do Sul, meu Estado, meus amigos, meus irmãos.
Cada um tem a sua convicção.
Eles votaram contra a tese.
Folha - O sr. fez quarentena?
Costa Leite - Eu me impus. Não
precisava. Não há lei que determine isso. Mas, para evitar que houvesse qualquer tipo de cobrança
ou crítica, eu usei a quarentena do
Executivo, que é a única que existe. Aí eu me impus quatro meses,
apenas para não dizer que "o cara
saiu da presidência do tribunal e
já está advogando".
Folha - Os clientes que o procuram comentam sobre sua condição
de ex-ministro?
Costa Leite - Não tem dúvida.
Não posso me despir da minha
condição de ex-presidente do STJ.
Mas isso aí me dá confiabilidade,
credibilidade. Não significa que
eu vou ganhar todas as minhas
ações. Se for olhar no STJ, verá
que já perdi ações. É normal que
isso aconteça. Não há nenhum tipo de dificuldade extra em relação a outros advogados que têm
bom trânsito no tribunal. Advogados que trabalham há 30 anos
estão na mesma condição.
Folha - O sr. se encontra com os
seus ex-colegas socialmente?
Costa Leite - Claro. Sem o menor
problema, meu Deus.
Folha - Isso não lhe confere uma
situação privilegiada?
Costa Leite - Não, porque nessas
situações eu jamais falo de serviço. Não sei se é uma questão ética
minha, mas posso te garantir. Se
vou no aniversário na casa de um
colega, não falo em processo por
nada desse mundo. Acho que a
minha dignidade profissional
também está em jogo aí.
Folha - Não seria o caso de restringir o exercício profissional no
tribunal em que atuou?
Costa Leite - Não há possibilidade disso. Se fizer isso, é uma loucura. Por que só o advogado? E os
outros profissionais? Por que não
pode acontecer contigo? Por que
tem de ser comigo, advogado, que
tenho de pagar esse preço pela
profissão? O que temos de respeitar são os limites éticos. Lamentavelmente há pessoas que não têm
a menor condição ética. É diferente. Você não pode comparar alhos
com bugalhos. Não pode comparar uma pessoa que tem 30 anos
de formado, que foi presidente do
STJ, como eu fui, com um menino, filho de não sei quem, que é
safado. É diferente. Não pode
comparar. Isso que dói.
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