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LUA DE FEL
Diferentemente do tempo em que fãs se aglomeravam no Planalto, palácio é palco de protestos contra o governo
Após euforia inicial, presidente se afasta da população
WILSON SILVEIRA
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O dia-a-dia dos palácios do Planalto e da Alvorada, hoje, em nada lembra a euforia dos primeiros
meses da gestão Luiz Inácio Lula
da Silva. Foi-se o tempo em que o
Alvorada era o destino de romarias de fãs que se revezavam todos
os dias de manhã, na hora do almoço e à noite -horários em que
o presidente passava pelo portão.
Naquela época, Lula deixava
sua segurança aflita porque não
resistia aos apelos e descia do carro para cumprimentá-los um a
um. Uns traziam presentes e remédios contra a bursite. Outros
queriam autógrafos, uma pose
para foto ou um simples aperto de
mão -era uma festa. Hoje, uma
película escura cobre os vidros do
Omega presidencial, impedindo a
identificação de quem está dentro. Antes, eram transparentes.
De todo modo, os fãs não fazem
mais romarias ao Alvorada, que
voltou a ser visitado pelos turistas
de sempre. Quanto ao Planalto, é
de novo alvo de protestos, como
nos últimos anos da gestão Fernando Henrique Cardoso.
Os atos são cada vez mais freqüentes. Começaram com os protestos de servidores públicos contra a reforma da Previdência e se
generalizaram. Num dia são índios pintados para a guerra, dançando em círculos, no outro são
advogados públicos engravatados
empunhando a Constituição.
Em duas ocasiões, o presidente
foi obrigado a sair para o Alvorada, na hora do almoço, pela porta
dos fundos do Planalto, para não
ter de passar por manifestantes.
Os protestos adquiriram tom
dramático quando, no último dia
13, o desempregado José Antonio
Andrade de Souza, 30, ateou fogo
ao próprio corpo na Praça dos
Três Poderes, alegando que não
ter conseguido audiência com Lula. Ele morreu cinco dias depois.
O diretor do Centro de Pesquisas de Opinião Pública da Universidade de Brasília (DataUnB),
Henrique Carlos Castro, disse que
a lua-de-mel da gestão Lula com o
eleitorado acabou há tempos.
"O que há agora é que o governo
está jogando pesado na política
real. O principal compromisso do
PT no governo é perpetuar-se no
poder. Para firmar-se como partido nacional, atingindo os grotões,
e viabilizar a reeleição presidencial, faz coisas que as pessoas não
esperavam que fizesse. Nessa hora cai o pano, não há mais possibilidade de discurso dúbio", disse.
Também professor de ciência
política, Castro avalia que a população está frustrada pelo não-cumprimento de uma promessa
que na verdade não foi feita.
"Lula não prometeu resolver todos os problemas do país, mas as
pessoas esperavam que resolvesse. Não mentiu, mas pecou por
omissão, porque sabia que existia
essa expectativa no imaginário
popular e se aproveitou disso.
Muitas pessoas tinham a idéia de
que o PT era o partido da mudança, que era de esquerda, mas nunca foi", afirmou Castro.
Reginaldo Prandi, professor
aposentado de sociologia da USP,
disse que "a população foi esticando a esperança, o namoro,
mas agora a ficha caiu". Segundo
ele, "este é o momento da decepção", porque "o presidente fala,
fala, fala e não acontece nada".
Oficialmente, o Palácio do Planalto não admite que tenha havido perda de interesse pela figura
do presidente. Segundo a Secretaria de Imprensa, a Folha é testemunha "do carinho manifestado
pelos brasileiros nas viagens do
presidente por todo o país".
Extra-oficialmente, assessores
dizem que a queda de popularidade de Lula é resultado de uma expectativa muito grande criada pela população na campanha e ainda não traduzida em ações concretas do governo. Porém, o que
se diz no Planalto é que essa sensação é passageira e que a popularidade subirá novamente quando
a política econômica começar a
gerar frutos palpáveis, como o aumento da oferta de emprego.
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