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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Afirmação de Soros confirma necessidade de novo rumo, diz Dirceu
Para PT, megainvestidor faz "chantagem" com o país
CLÓVIS ROSSI
EM NOVA YORK
O presidente nacional do PT,
José Dirceu, rebateu ontem o que
chamou de "chantagem", aludindo às declarações à Folha do megainvestidor George Soros, segundo quem o mercado financeiro imporá ao Brasil a escolha entre José Serra ou o caos.
"Aceitar essa chantagem significa acabar com o Brasil, liquidar
com a soberania nacional", reagiu
Dirceu, em telefonema à Folha no
início da tarde de ontem.
Para o presidente do PT, as declarações de Soros "só confirmam
a necessidade de o Brasil mudar
de rumo e retomar uma proposta
de desenvolvimento nacional",
que, por extensão, reduza a dependência do capital externo.
Ele se diz muito preocupado
não exatamente com as declarações de Soros, mas com o ambiente que vê criar-se no país, no
sentido de que qualquer mudança
seria desastrosa. "Se persistir essa
idéia de que nada pode mudar,
por causa da pressão dos mercados financeiros, aí sim é que o
Brasil vai virar uma Argentina."
Soros havia dito à Folha que o
mercado financeiro acha que Lula, se eleito, dará o calote na dívida. Por isso, desde já, começa a se
prevenir para a hipótese, o que leva ao agravamento da situação financeira a tal ponto que, eleito o
petista, encontrará um quadro insustentável e acabará sendo obrigado a dar mesmo o calote.
Já se Serra (PSDB), o pré-candidato do governo, for eleito, os
mercados se acalmarão, acha Soros, porque não querem inviabilizar um país como o Brasil, que o
financista aponta como "melhor
aluno" do modelo econômico hoje hegemônico.
Coalizão
Rebate Dirceu: "Se a disjuntiva é
essa, o Brasil está acabado como
nação soberana". Ele diz que seu
partido se dispõe a debater "de
forma a mais transparente possível" como sair do que considera
"chantagem". Propõe "uma nova
coalizão político-empresarial",
obviamente comandada pelo PT,
mas que, segundo ele, teria o
apoio de vastos segmentos do setor produtivo, especialmente médios e pequenos empresários.
Dirceu acha que quem se opuser a essa "nova coalizão" perderá
eleitoralmente, porque será visto
como pró-norte-americano (na
verdade, Soros não disse que são
os Estados Unidos que querem
impor Serra, mas sim o mercado
financeiro). A nova embaixadora
norte-americana no Brasil, Donna Hrinak, já disse que seu governo não teme a vitória de Lula.
Dirceu conta que, nos contatos
que o PT vem mantendo com
funcionários norte-americanos,
está alertando para o fato de que o
Brasil seria "fator de estabilidade
na América do Sul". Por isso,
qualquer manobra para interferir
no resultado eleitoral ou na governabilidade da próxima administração seria brincar com fogo.
Nos setores conservadores do
mundo acadêmico norte-americano, pelo que a Folha ouviu em
Nova York, a preocupação com
uma eventual vitória de Lula é
exatamente a complexa conjuntura sul-americana: a Venezuela
vive à beira da combustão, a Colômbia vê agravar-se permanentemente o quadro de guerra civil,
a Argentina está perto da anarquia e o resto do Mercosul também cambaleia.
Agregar a esse quadro um presidente de esquerda no maior país
da região assusta o conservadorismo norte-americano. O PT, segundo Dirceu, não pretende mudar de discurso. "Não adianta ganhar a eleição dizendo coisas em
que a gente não acredita. Somos
um partido popular, mas também
um partido responsável."
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