|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONGRESSO
Parlamentares darão apoio se economia for bem e se obtiverem favores
Novo governo terá base mais frágil
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Seja quem for o novo inquilino
do Palácio do Planalto a partir de
janeiro de 2003, o próximo presidente da República terá mais dificuldades do que teve Fernando
Henrique Cardoso no Congresso
para aprovar emendas constitucionais ou evitar a criação e instalação de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito).
Para sobreviver politicamente,
ele terá de se deslocar para o centro, a exemplo do que fez FHC em
seus dois mandatos. A dificuldade
será maior, pois a ampla coalizão
que sustentou o atual governo,
formada pelo PSDB, PFL, PMDB,
PTB e PPB não existe mais.
Ao final de 2002, FHC terá governado oito anos a partir de uma
maioria classificada de "consistente": 296 deputados no primeiro mandato e 260 no segundo, o
suficiente para aprovar projetos
de lei, mas aquém do apoio necessário para mudar a Constituição
ou impedir a criação de CPIs.
Logo no início do mandato, por
exemplo, FHC teve de negociar
para impedir a criação de duas
CPIs: uma para apurar irregularidades na licitação de US$ 1,4 bilhão para a instalação de um projeto de vigilância da Amazônia
(que depois foi aberta em agosto
de 2001) e a outra para investigar
as falências dos bancos Nacional e
Econômico.
Os votos que faltavam, FHC
buscava no grupo "gelatinoso",
como é classificado no Planalto,
formado por deputados que costumam negociar caso a caso o
apoio ao governo. De 115 deputados no primeiro mandato, o grupo aumentou para 123 no segundo e está maior agora com o rompimento do PFL com o governo.
Cerca de 30% desse grupo costuma votar "tecnicamente". O restante, na troca de favores.
A oposição, segundo projeções
feitas no Congresso e por consultores, deve aumentar sua bancada
dos atuais 130 para algo entre 160
e 170 deputados. Assim como Serra, o presidenciável do PT, Luiz
Inácio Lula da Silva, teria de recorrer ao grupo que condicionar
o apoio à matéria em votação.
Ou seja, tanto Lula quanto Serra, os dois primeiros colocados
nas pesquisas de opinião, terão de
se mover no terreno gelatinoso
dos interesses pontuais. "O Congresso continuará a ter uma feição
de centro, com uma pequena predominância do que seria a centro-esquerda", diz Murilo Aragão, da
Arko Advice, consultora de bancos internacionais, em Brasília.
"O PT talvez tenha de pagar um
preço muito alto para ser governo", diz Antônio Augusto Queiroz, diretor do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar), dono de um completo banco de dados sobre as votações no Congresso, o comportamento das bancadas de interesse e
de perfis parlamentares.
Lula tem repetido que pretende
negociar tudo, da reforma agrária
à previdenciária. Serra diz que
pretende trabalhar dentro do
Congresso como fez quando era
ministro da Saúde e conseguiu
aprovar projetos polêmicos, como a proibição da publicidade de
cigarros e a vinculação constitucional de recursos para a saúde.
O temor dos mercados internacionais em relação a eventual eleição de Lula parece exagerada aos
olhos nacionais. Além dos "gelatinosos", Lula contaria com o apoio
de pelo menos metade do PSDB,
cuja expectativa é eleger algo entre 80 e 100 deputados.
Além disso, Serra e Lula, assim
como Anthony Garotinho (PSB)
ou Ciro Gomes, terão a seu favor a
tradicional lua-de-mel de pelo
menos seis meses que o Congresso costuma proporcionar aos novos governantes.
A governabilidade de uma administração Garotinho até agora é
uma incógnita, mas tem-se como
certo que Ciro Gomes, se eleito,
seria irremediavelmente empurrado para a direita: por meio do
tucano Tasso Jereissati, ele poderia atrair boa parte do PSDB e a
maior parte do PFL.
Texto Anterior: Para PT, megainvestidor faz "chantagem" com o país Próximo Texto: Janio de Freitas: Ação subterrânea Índice
|