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JANIO DE FREITAS
Ação subterrânea
Diferentes motivos, que
tanto podem ir da ingenuidade à desinformação, como da
conveniência à pior má-fé, deram sentido pejorativo à expressão "teoria conspirativa" para
aplicar às suspeitas ou constatações que lhes sejam incômodas,
e se refiram a articulações ou
manobras subterrâneas com o
propósito de alterar situações
não modificáveis por meios expostos e legítimos.
Já que o governo Fernando
Henrique Cardoso está na iminência de comprometer US$ 700
milhões (gasto apenas inicial)
na compra de caças a jato, é
ilustrativo um episódio que teve,
por trás, muito mais do que o
negócio conhecido. E não menos
acusações levianas.
Nos 40 anos, em 2001, da fracassa invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, organizada pelo
governo americano com uso de
exilados cubanos, houve em Havana um simpósio de participantes dos dois lados, vários estudiosos e alguns convidados especiais, para troca de revelações
e de análises. Um dos muitos documentos interessantes, ali revelados, não dizia respeito ao assunto principal. Era uma carta
do então diretor da CIA, Allen
Dulles, ao primeiro-ministro
britânico Harold McMilland.
Como os cubanos estivessem
negociado aviões de combate, o
governo dos EUA pedia que os
ingleses não os vendessem, para
que os cubanos fizessem a compra na União Soviética. O que,
dizia a carta, facilitaria muito o
plano americano. Que plano? O
plano de forçar aproximações
entre Cuba e a União Soviética,
para criar mobilizações internas e internacionais de opinião
pública em favor da ação americana pela derrubada de Fidel
Castro, que extinguira o domínio econômico de Cuba por
americanos.
Os observadores que, na época, deduziram de outros fatos a
existência de manobras subterrâneas para lançar a América
Latina contra Cuba foram, invariavelmente, atacados como
meros obcecados com a teoria
conspirativa. Daí para acusações que lhes criavam dificuldades sérias, a distância era de
centímetros.
Quem some o sequestro de
Abílio Diniz, a encenação da ex-mulher de Lula, a montagem do
debate entre ele e Collor feita na
TV Globo e tantos outros fatos
tão aparentemente díspares e,
no entanto, tão bem encadeados
na sequência demolidora, hoje
em dia não corre o risco de imputações levianas. Mas, àquela
altura, foi o que aconteceu, em
meio ao comprometimento da
mídia contra Lula, aos que observaram as características de
ação conspirativa para predeterminar um resultado eleitoral
não alcançável por meios expostos e legítimos. A propósito, o
primeiro ato formal de Collor,
como presidente eleito, foi viajar
a Washington para fazer "um
agradecimento ao presidente
George Bush" (o pai do Bush
atual).
Nem avião nem Cuba nem
Collor. O propósito deste artigo
é a plena aceitação da pecha de
adepto do que chamam de teoria conspirativa. Por afirmar
que se estão acumulando indícios de mais uma trama contra
o processo eleitoral brasileiro.
Indícios internos e externos.
Coisas desse tipo não são apenas contra um ou outro candidato. São, acima de tudo, contra
o país e todo o seu esforço, seu
presente e seu futuro.
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