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OPERAÇÃO ANACONDA
"Bico" para empresa deflagrou apuração
Investigação sobre agenciamento, em Alagoas, de agentes federais para espionagem industrial revelou esquema com juízes
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ironicamente, a Operação Anaconda nasceu de um gesto de honestidade do policial federal José
Elizon Machado Pacheco. Estava
lotado em Maceió. Revelou, em
depoimento, que recebera proposta para integrar uma rede de
espionagem econômica e política.
Contou que o autor do convite
foi o delegado aposentado da PF
Jorge Luiz Bezerra da Silva. Ofereceu-lhe remuneração paralela de
R$ 5.000 mensais. Um agente da
Polícia Federal ganha R$ 4.515.
Ao abordar o agente Pacheco, o
delegado Bezerra da Silva disse
que falava em nome da empresa
Kroll. É mundialmente conhecida
no ramo da investigação privada.
Possui escritório em São Paulo. A
Operação Anaconda foi conduzida por equipe da Diretoria de Inteligência da PF, em Brasília. É de
16 de abril de 2002 o primeiro documento da investigação (número 2002.80.00.002311-7).
Trata-se de pedido de interceptação telefônica das linhas utilizadas por Bezerra da Silva, sua mulher, Severina Cristina Rodrigues
de Lima, e de pessoa identificada
apenas como "Edilmo de tal". O
pedido foi autorizado pela 4ª Vara
da Justiça Federal alagoana.
Sucederam-se novos pedidos de
escuta, sempre homologados pela
Justiça. Detectaram-se negócios
escusos em vários Estados, entre
eles Pará, Tocantins, Rio Grande
do Sul e São Paulo, centro operacional da quadrilha.
Por 17 meses, os papéis da Anaconda transitaram no eixo Brasília-Maceió em pastas azuis. Traziam na capa a expressão "segredo de Justiça". Para resguardar o
sigilo, foram transportadas de
mão em mão.
Em documento de 11 de junho
de 2003, a PF pede à Justiça alagoana a migração do caso. Diz o
texto: "Considerando a existência
de indícios de participação de
membros da Justiça Federal de
São Paulo, solicito [...] o envio do
procedimento criminal ao Tribunal Regional Federal 3ª Região,
para doação de providências de
respeitável mister". No dia 13 de
agosto passado, um portador entregou o processo ao TRF-3.
As páginas do processo já apresentavam uma quadrilha de porte
nacional. Entre os negócios que
tocavam havia, por exemplo, um
caso sob investigação na delegacia
da PF em Santarém.
Envolvia uma empresa de processamento de sardinhas. A quadrilha monitorava o processo em
contatos com a delegada Maria
das Graças Malheiros Monteiro.
Os agentes da PF sob investigação administravam interesses
também em Passo Fundo (RS).
Eram auxiliados, segundo revelam os grampos, pelo delegado federal Mário Luiz Vieira. Controlavam processo de suposta sonegação de tributos previdenciários da
cooperativa rural Cotrel. A quadrilha chegou mesmo a comprar
notas frias para justificar pagamentos recebidos da cooperativa.
O esquema tinha ramificações
também no município de Araguaína (TO). Ali, cobraria suposta
dívida de um frigorífico chamado
Free Norte. Os diálogos gravados
mencionam pedido de ajuda que
seria feito ao delegado da PF local,
Deuselino Valadares dos Santos.
Na capital paulista, o Ministério
Público acompanhou escutas telefônicas realizadas de 5 a 19 de setembro. O conteúdo das conversas robusteceu a investigação, culminando, em 30 de outubro, com
oito prisões, 15 operações de busca e apreensão de documentos e a
revelação do suposto envolvimento dos juízes federais João
Carlos da Rocha Mattos, Casem e
Ali Mazloum. Os três foram denunciados pelo Ministério Público por formação de quadrilha.
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