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OPERAÇÃO ANACONDA
OUTRO LADO
Assessoria nega que Ciro Gomes conheça policial
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, disse, por
meio de sua assessoria, que nunca teve nenhum tipo de contato
-nem por telefone nem pessoal- e também não conhece o
agente da Polícia Federal Cesar
Herman Rodriguez.
Em três diálogos, registrados
em escuta telefônica realizada
pela PF com autorização judicial,
em setembro de 2002, Rodriguez
conversa com um interlocutor
chamado Aloisio. Acusado de ser
um dos principais operadores de
uma suposta organização criminosa com ramificações em toda a
estrutura do Estado, o agente pede cópias de documentos que interessariam a Ciro Gomes, afirmando que teria se encontrado
com o irmão do ministro e que se
reuniria com o próprio.
A assessoria informou ainda
que, como Ciro, seu irmão Lucio
Gomes, o principal articulador
de sua campanha à Presidência,
não conhece o agente Rodriguez.
Os diálogos constam do Auto
Circunstanciado Número 18, assinado pelo delegado Claudio
Nogueira em 9 de junho de 2003.
O relatório, obtido pela Folha, de
176 páginas, revela uma rede de
corrupção que atua em toda a
administração pública.
Cotia
Falando em nome do prefeito
de Cotia, Joaquim Pedroso
(PSDB), o consultor jurídico da
prefeitura, Francisco Festa, negou que seu chefe tivesse encomendado à suposta organização,
por meio do juiz Casem Mazloum, o monitoramento do telefone de sua mulher à época, Simone Oliveira.
"O prefeito não conhece o juiz
Mazloum. Acho que isso tem razões políticas. Até porque eles se
separaram amigavelmente."
A delegada da PF Maria das
Graças Malheiros Monteiro, de
Santarém, confirmou ter recebido ligação do delegado aposentado Jorge Luiz Bezerra da Silva.
"Ele me procurou porque eu
era a delegada chefe na época [julho de 2002]. Ele veio aqui, e eu o
encaminhei para quem presidia
o inquérito", declarou Monteiro,
sem dar detalhes sobre os interesses de Silva, a quem chamou
de "colega". "Tudo que eu tinha
a dizer já informei ao Departamento de Polícia Federal."
O delegado da PF Deuselino
Valadares dos Santos, chefe da
delegacia da PF em Araguaína
(TO), disse à Folha que não conhece e nunca foi procurado pelo
delegado aposentado Silva.
Pelos diálogos, Deuselino seria
contatado para a suposta quadrilha, que queria sua ajuda para
conseguir informações sobre o
frigorífico Free Norte, de quem
pretendiam cobrar uma dívida.
"Não fui [procurado]. E, se fosse, prenderia [os intermediários]
em flagrante", afirmou o delegado, que, em um de seus inquéritos, indiciou os donos do Free
Norte por documentação falsa.
Os proprietários do frigorífico,
Rogério e Renato Menezes, não
responderam aos recados deixados pela reportagem.
O delegado da PF Mario Luiz
Vieira, que, segundo os diálogos
reproduzidos no relatório da
Operação Anaconda, teria usado
de suas funções de servidor para
beneficiar a empresa Cotrel (nome fantasia da Cooperativa Tritícula Erechim Ltda.), foi transferido de Passo Fundo para Porto
Alegre há cerca de quatro meses.
Na tarde da sexta-feira, por três
vezes a Folha tentou entrar em
contato com Vieira em seu novo
gabinete, na capital gaúcha. Em
todas as tentativas, o telefone
chamou, mas ninguém atendeu.
O gerente de produção da Cotrel, José Dalmulin, citado nas
gravações como contato da suposta quadrilha com a empresa,
não respondeu aos recados deixados pela reportagem.
Kroll
Eduardo Sampaio, presidente
da Kroll no Brasil desde 1998,
afirmou que o delegado aposentado Bezerra da Silva mentiu ao
dizer a agentes que recrutava
profissionais da PF para atuar
em espionagem econômica e política para a empresa. "Não conheço esse cidadão. Nunca tinha
visto o seu nome até uma semana atrás [quando se tornou pública a suposta participação do
delegado aposentado na Operação Anaconda]", disse Sampaio.
A Folha não localizou em Brasília José Marques Ferreira, que
seria, conforme a PF, um ex-policial civil do Distrito Federal conhecido como Mineirinho. O telefone residencial de Ferreira
oferecido pelo serviço de informações esteve ocupado durante
toda a tarde e a noite de sexta.
Juízes
Os juízes federais João Carlos
da Rocha Mattos, Ali Mazloum e
Casem Mazloum negaram as
acusações e afirmaram serem vítimas de uma "armação". Os advogados de quatro dos outros oito presos também afirmaram à
Folha que seus clientes são inocentes e que a Justiça está dificultando o acesso ao processo.
Em São Paulo, o ministro Márcio Thomaz Bastos disse que os
acusados ainda não foram condenados e que o direito de defesa
deve ser respeitado. Quando
questionado sobre se houve cerceamento de defesa, disse: "Não
tenho notícia. Acho que o direito
de defesa é uma coisa importante
e tem de ser preservado, ao mesmo tempo que o direito de investigação e de punição do Estado".
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