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Pequenas capitais buscam poder central e vão para o PT
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As 26 capitais de Estado têm
27,5 milhões de eleitores, mas
80% deles estão nas dez maiores.
Na parte de baixo da lista, alojam-se as cidades cuja tendência histórica tem sido de alinhamento ao
governo federal. Não por acaso,
neste ano, o PT conquistou a prefeitura de três dessas capitais periféricas: Macapá (AP), Rio Branco
(AC) e Palmas (TO).
O prenúncio de que esse movimento poderia acontecer já foi
sentido em 2000, quando o PT
conquistou algumas capitais importantes, mas no meio do lote
veio Aracaju -apenas o 19º eleitorado entre as 26. Neste ano, o
PT manteve Aracaju.
As pequenas capitais se assemelham às médias cidades: quando
há uma troca de guarda no poder
central, todas se sentem atraídas
para mudar também.
Nesta eleição, o PT passou a estar mais em pequenas e médias cidades e teve sua maior votação
em disputas municipais: 16,3 milhões de votos, ou 17,15% do total
dos votos válidos do país. O percentual é menor do que os 17,63%
dos votos para prefeito obtidos
pelo PSDB em 1996, no auge dos
efeitos positivos do Plano Real.
É fácil notar que os petistas estão migrando de grandes centros
para localidades de tamanho médio e/ou pequeno. Palmas, Macapá e Rio Branco têm, juntas, um
total de 485.464 eleitores.
Para comparar, o PT perdeu no
primeiro turno deste ano três importantes centros no interior paulista em que era governo: Campinas, Piracicaba e Ribeirão Preto.
Somados, têm 1.262.191 eleitores
-160% a mais do que as três capitais novas obtidas pelo partido.
Cientistas políticos dizem que a
tendência das cidades menores e
das capitais pequenas é mesmo
seguir com o poder central. As capitais têm eleição direta para prefeito desde 1985. Nesses quase 20
anos, quando se observa os eleitos, percebe-se uma variedade de
partidos. Mas é difícil encontrar
algum que tenha sido franco opositor do governo federal.
Termômetro de crise
O quadro de partidos de capitais
acaba servindo de termômetro de
crises para o governo federal. De
1985 para cá, apenas no final do
governo Sarney (1985-1990) e no
governo Fernando Collor (1990-1992) as capitais periféricas se encheram de siglas de oposição à administração federal.
Estudioso dos resultados eleitorais do país, o cientista político
Wanderley Guilherme dos Santos
diz que "são poucos os municípios que podem manifestar independência ao governo federal".
Quanto menor a cidade, maior a
dependência de repasse de recursos. Entretanto, ele acha importante notar que houve um aumento bruto da presença do PT
nas cidades. Por conseqüência,
seria natural que algumas capitais
fossem agregadas ao lote petista.
O também cientista político
Leôncio Martins Rodrigues diz
ser necessário avaliar "a biografia
dos vencedores, conhecer as situações locais" antes de emitir um
juízo de valor definitivo sobre as
vitórias petistas. "A ida do partido
para os grotões indica a nacionalização da sigla. Isso já está claro."
Até aqui, o PT já conquistou 400
cidades no primeiro turno. Em
2000, ganhou em 187 municípios.
Para o sociólogo José Antônio
Guimarães Lavareda Filho, a análise inicial que se pode fazer sobre
a conquista petista em Macapá,
Palmas e Rio Branco é que "foi
um mal negócio ficar com essas
três e perder prefeituras como a
de Campinas".
Apesar de desdenhadas nacionalmente, essas capitais pequenas
têm relevância na política local.
Os 179.865 eleitores de Rio Branco
representam só 0,15% do eleitorado brasileiro habilitado a votar
para prefeito domingo passado.
Mas equivalem a 46,4% dos votos
do Estado do Acre. No Amapá, a
capital tem um peso ainda maior.
Os 193.475 eleitores que votam
em Macapá equivalem a 58,9% do
eleitorado daquele Estado.
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