|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BRASIL PROFUNDO
Cinta-larga foi agredido e ficou preso em praça de Espigão d'Oeste
Garimpeiros fazem índio refém após chacina em RO
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Revoltados com uma chacina
ocorrida na terra indígena Roosevelt, em Espigão d'Oeste (a 534
km de Porto Velho, em Rondônia), garimpeiros seqüestraram,
agrediram e ameaçaram linchar
ontem um índio cinta-larga, identificado como "Márcio Cinta-Larga", que passeava na cidade.
O índio, com sinais de sangue
no corpo, ficou amarrado a uma
árvore da praça central da cidade
por cerca de cinco horas e meia.
Os garimpeiros só aceitavam libertá-lo sob condição de que
ocorresse uma ampla busca terrestre a outras possíveis vítimas
na reserva. Eles dizem que o número de corpos é maior do que os
três localizados até agora pela Funai (Fundação Nacional do Índio)
-a maioria fala em 12, outros, em
20 mortes na reserva.
Às 18h, o cinta-larga foi tirado
da árvore e levado para o ginásio
de esportes da cidade. O tenente-coronel da Polícia Militar Adilberto Maciel, que chefiou as negociações com os garimpeiros,
anunciou ter fechado um acordo
pelo qual o índio ficará sob custódia da Polícia Federal. Em troca,
os garimpeiros integrariam, como guias, uma equipe de busca
terrestre que poderia, segundo a
PM, começar ainda hoje.
A autorização para a entrada na
área de policiais civis, militares e
federais, que vinha sendo negada
pela Funai, foi pedida à Justiça Federal pela promotora de Justiça
de Espigão Conceição Baena.
A expectativa do coronel Maciel
é que a ordem judicial pudesse ser
dada ainda ontem à noite.
Após o seqüestro, 30 policiais
federais foram deslocados às
pressas de Porto Velho, Ji-Paraná
e Vilhena para tentar impedir novas agressões ao cinta-larga.
Policiais civis e militares armados de espingardas e escopetas tiveram de fazer um cordão de isolamento em torno da árvore, porque "5.000 pessoas", segundo a
estimativa do comandante da Polícia Militar da cidade, Firmino
Aparecido, se aglomeraram no local. Ao todo, 120 PMs foram à praça. Alguns garimpeiros ameaçavam linchar o cinta-larga.
Segundo a Polícia Civil, cerca de
400 garimpeiros estavam nas
imediações da praça. Outras mil
pessoas estavam, no início da noite, perto do ginásio de esportes.
A Funai anunciou anteontem
ter localizado três corpos perto do
rio Roosevelt, que não haviam sido resgatados até o final da tarde
de ontem porque a área é de difícil
acesso. Um helicóptero da PF foi
ontem para a área. O ataque dos
índios ocorreu por volta das 11h
da última quarta-feira, contra 60
homens que faziam garimpo
clandestino de diamante.
Agressão
O índio, que teria 30 anos, foi
rendido pelos garimpeiros quando passava perto da delegacia da
Polícia Civil, por volta das 12h30
de ontem. Lá estavam cerca de 50
garimpeiros e familiares de garimpeiros desaparecidos ou dados como mortos no ataque ocorrido na reserva. Desde quinta-feira eles tentam entrar na reserva
para localizar os corpos.
O índio foi retirado de um táxi e
recebeu socos e chutes ao longo
de cinco quadras, até ser atado,
com uma corda fina, a uma árvore na praça municipal.
No início da noite, correu um
boato entre os garimpeiros de Espigão de que 150 índios estavam
indo da reserva para a cidade, numa distância de 100 km, para tentar libertar o cinta-larga. O delegado da Polícia Civil Raimundo
Souza Filho disse que a Polícia
Militar montou barreiras nas
principais entradas da cidade para impedir a possível chegada dos
índios. A viagem dos índios não
foi confirmada.
O superintendente da PF em
Porto Velho, Marco Moura, disse
que um helicóptero e cinco agentes federais passaram o dia tentando resgatar os três corpos na
terra indígena. Com apoio de funcionários da Funai, foi aberta uma
clareira na mata para o pouso do
helicóptero.
Texto Anterior: Reforma sindical deve ser votada só no ano que vem Próximo Texto: Folga prolongada: Feriado deixa Câmara vazia já na véspera; nada é votado Índice
|