|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÕES 2004/MARKETING
Eles atuam dispostos a esquecer o passado; ex-publicitário de Marta está com Maluf, e ex-colaborador de candidato do PP está com o PT
Badalados, marqueteiros dão tom à disputa
CHICO DE GOIS
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles são os responsáveis pela
embalagem do candidato. Preparam o político com enfeites, cores
de tons vivos, arrumam o sorriso
e assopram as palavras certas que
devem ser ditas nos momentos
mais incertos. Para uns, eles não
têm alma. Para outros, são a verdadeira alma do negócio.
Conhecidos como marqueteiros, os publicitários que vão tratar
das campanhas dos quatro primeiros colocados nas pesquisas
eleitorais para a Prefeitura de São
Paulo destoam em estilo, mas
identificam-se na forma de ação:
partir para a defesa de seus clientes, nem que isso signifique atacar
o que já defenderam no passado.
Marcelo Teixeira, 54, que até setembro passado era um dos responsáveis pela divulgação dos
programas da Prefeitura de São
Paulo, terá agora, como publicitário de Paulo Maluf (PP), a tarefa
de bater nesses mesmos programas e na gestão petista.
"Sou profissional. E o que está
em discussão não é a publicidade
de Marta, mas o fato de a administração dela não ter sido aprovada pela população", disse Teixeira, que participou da campanha de Marta em 1998, quando ela
perdeu o governo de São Paulo
para Mário Covas, e em 2000,
quando a petista ganhou de Maluf
e chegou à prefeitura.
Teixeira pretende resgatar antigos projetos malufistas como o
Cingapura e o PAS (Plano de
Atendimento à Saúde) e irá repetir o bordão desta campanha: "O
bom prefeito está voltando". De
quebra, aproveitará para repetir
que Maluf "não tem conta no exterior" e é o político injustamente
mais investigado no país.
Mais conhecido publicamente,
Duda Mendonça, que trabalhará
na candidatura de Marta Suplicy
(PT), fez o caminho inverso de
Teixeira. Entre as realizações que
transformaram Duda em sobrenome de marqueteiro estão a eleição de Maluf a prefeito, em 1992,
com o slogan "Amo São Paulo,
voto Maluf", e a de Celso Pitta, em
1996, com a proposta do Fura-Fila
(ainda não concluído).
Como ajudou a eleger Maluf,
Duda Mendonça também contribuiu para sua derrota ao criar a
frase, lida pelo então prefeito no
horário eleitoral, "vote no Pitta, e
se ele não for um bom prefeito,
nunca mais vote em mim".
Desde que transformou Luiz
Inácio Lula da Silva no "Lulinha
Paz e Amor", na corrida presidencial em 2002, tosando o "sapo barbudo" identificado pelo ex-governador Leonel Brizola, Duda passou a ser visto como petista de
carteirinha.
Nesta campanha, criou os slogans "Marta faz bem-feito" e
"Marta, uma mulher de coragem". Com isso, quer imprimir
um caráter de tocadora de obras e
transformar o adjetivo "arrogante" em "corajosa".
"Com qualidade"
A campanha de José Serra
(PSDB) será feita pela agência Lua
Branca Comunicação, criada neste ano a partir da GW Comunicação para se dedicar exclusivamente a marketing e assessoria políticos. O principal marqueteiro é o
jornalista Luiz González, que trabalhou em diversas publicações e
nas TVs Bandeirantes e Globo.
Avesso a badalações, González
evita falar com a imprensa nem se
permite fotografar. A GW mantém vários contratos com o governo do Estado de São Paulo.
Entre as campanhas tucanas
que já realizou estão a de Mário
Covas para governador, a de José
Serra para o Senado (1994) e as de
Geraldo Alckmin, para prefeito de
São Paulo em 2000 e para governador em 2002. Também trabalhou para o prefeito Cassio Taniguchi (PFL-PR), em 1996 e 2000, e
para Ulysses Guimarães na campanha presidencial de 1989.
Pelo PT, trabalhou apenas no
segundo turno da campanha de
Telma de Souza à Prefeitura de
Santos, em 1996. Ela perdeu.
O programa de Serra vai tentar
mostrar que o ex-ministro da
Saúde administra "com qualidade" e procurará deixar claro que o
candidato "gosta e conhece a cidade", ao contrário do que seus
adversários espalham.
No comando da campanha de
Luiza Erundina (PSB) a assessoria
da candidata divulga que não haverá marqueteiro. A coordenação
de comunicação será do jornalista
Ivan Seixas, 49, quase um discípulo da candidata desde que ela foi
eleita prefeita, em 1989. "A figura
do marqueteiro não vai existir",
diz Seixas. "Ela não precisa ser
produzida porque não será vendida como um produto."
Desde 1989, Seixas acompanha
Erundina em suas campanhas,
mas sempre no papel de assessor.
Ele diz que que a coordenação de
comunicação estará ligada diretamente ao comando político da
candidatura.
A propaganda do PSB deve realçar que Erundina "é a única prefeita da cidade". Para isso, vai dizer que Marta tem aspirações para 2006 (ela já negou), assim como Serra, e Maluf "tem problemas com a Justiça" (apesar de investigado por envio de dinheiro
para o exterior, não tem condenação criminal e diz ser inocente das
acusações).
Texto Anterior: Eleições 2004/Recursos: Candidatos "nanicos" de SP sonham com campanha milionária Próximo Texto: Ex-guerrilheiros estão à frente da campanha do PSB Índice
|