São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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CEARÁ

Área que deveria estar sendo irrigada está coberta de mato, e motores para bombear a água enferrujam

Projeto do governo Ciro terá de ser refeito

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SENADOR SÁ

Um projeto de irrigação no semi-árido nordestino feito na gestão do presidenciável Ciro Gomes (PPS), quando ele governou o Ceará (1991 a 1994), está abandonado e terá que ser refeito pelo atual governo do Estado.
O projeto Tucunduba, em Senador Sá (a 314 km de Fortaleza, com 5.600 habitantes), deu certo só no primeiro ano de existência, entre 92 e 93. Depois, por falta de recursos e de orientação técnica, as 25 famílias que seriam beneficiadas desistiram de plantar.
A Seagri (Secretaria de Agricultura Irrigada) estuda a modernização do projeto e pretende trocar o pivô pelo modelo de gotejamento só agora, dez anos depois de o projeto ter sido implantado. O custo da modernização deve ficar em R$ 350 mil e não há previsão de quando isso deverá ocorrer.
Ciro não quis comentar o caso (leia texto ao lado). É o segundo projeto relacionado à seca feito por ele no qual o atual governo, ligado a Tasso Jereissati (PSDB), padrinho político de Ciro, tem que fazer novos investimentos.
Em 28 de julho, a Folha mostrou que o Canal do Trabalhador, principal obra de Ciro quando governador, vai receber R$ 14 milhões para ajustar erros da construção original. Em relação ao Tucunduba, o custo, à época, foi equivalente a cerca de R$ 1 milhão, incluindo os equipamentos, segundo informou a Seagri.

Mato
Atualmente, as máquinas estão completamente paradas e a área que deveria estar sendo irrigada, com cem hectares, está coberta de mato, com árvores frutíferas isoladas -cajueiros e bananeiras.
Os motores que teriam de bombear a água para a terra começam a enferrujar. O pivô que deveria estar distribuindo a água está intacto. Os reservatórios para água também estão vazios.
Os moradores da região aproveitam a terra só no "inverno" (período das chuvas). Neste ano, plantaram milho, mas boa parte da produção foi perdida por causa do ataque de lagartas. "Sem irrigação e dinheiro para investir, a gente acaba plantando só para comer mesmo. Vende muito pouco", disse o agricultor Francisco das Chagas da Conceição, 33.
Sua família e outras 24 estavam inscritas para serem beneficiadas pelo projeto de Ciro e tiveram êxito no primeiro ano com o plantio de feijão. Porém as contas de energia elétrica ficavam cada vez mais altas e a produção não conseguia pagar as dívidas.
"Eles montaram as máquinas, mas não veio nenhum técnico mostrar como é que a gente tinha que trabalhar. Cada um trabalhou como sabia. Também não tivemos financiamento do banco, então não tinha como pagar as contas mesmo", disse João Alves da Silva, 55, outro agricultor inscrito.
Em 1999, o Tucunduba chegou a ser reativado, depois de seis anos completamente parado, por iniciativa de um empresário japonês, que iniciou o plantio de melancia. A falta de uma linha de crédito, porém, e os altos custos com energia também causaram a falência da iniciativa. Agora, a sede do projeto está sem luz por causa de dívidas com a Coelce (Companhia de Eletricidade do Ceará).
Água não é problema na região. O açude Tucunduba tem capacidade para 41,4 milhões de metros cúbicos de água e o rio Tucunduba é perene. Ao redor, porém, o que predomina é o semi-árido.



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