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CEARÁ
Área que deveria estar sendo irrigada está coberta de mato, e motores para bombear a água enferrujam
Projeto do governo Ciro terá de ser refeito
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SENADOR SÁ
Um projeto de irrigação no semi-árido nordestino feito na gestão do presidenciável Ciro Gomes
(PPS), quando ele governou o
Ceará (1991 a 1994), está abandonado e terá que ser refeito pelo
atual governo do Estado.
O projeto Tucunduba, em Senador Sá (a 314 km de Fortaleza,
com 5.600 habitantes), deu certo
só no primeiro ano de existência,
entre 92 e 93. Depois, por falta de
recursos e de orientação técnica,
as 25 famílias que seriam beneficiadas desistiram de plantar.
A Seagri (Secretaria de Agricultura Irrigada) estuda a modernização do projeto e pretende trocar
o pivô pelo modelo de gotejamento só agora, dez anos depois de o
projeto ter sido implantado. O
custo da modernização deve ficar
em R$ 350 mil e não há previsão
de quando isso deverá ocorrer.
Ciro não quis comentar o caso
(leia texto ao lado). É o segundo
projeto relacionado à seca feito
por ele no qual o atual governo, ligado a Tasso Jereissati (PSDB),
padrinho político de Ciro, tem
que fazer novos investimentos.
Em 28 de julho, a Folha mostrou que o Canal do Trabalhador,
principal obra de Ciro quando governador, vai receber R$ 14 milhões para ajustar erros da construção original. Em relação ao Tucunduba, o custo, à época, foi
equivalente a cerca de R$ 1 milhão, incluindo os equipamentos,
segundo informou a Seagri.
Mato
Atualmente, as máquinas estão
completamente paradas e a área
que deveria estar sendo irrigada,
com cem hectares, está coberta de
mato, com árvores frutíferas isoladas -cajueiros e bananeiras.
Os motores que teriam de bombear a água para a terra começam
a enferrujar. O pivô que deveria
estar distribuindo a água está intacto. Os reservatórios para água
também estão vazios.
Os moradores da região aproveitam a terra só no "inverno"
(período das chuvas). Neste ano,
plantaram milho, mas boa parte
da produção foi perdida por causa do ataque de lagartas. "Sem irrigação e dinheiro para investir, a
gente acaba plantando só para comer mesmo. Vende muito pouco", disse o agricultor Francisco
das Chagas da Conceição, 33.
Sua família e outras 24 estavam
inscritas para serem beneficiadas
pelo projeto de Ciro e tiveram êxito no primeiro ano com o plantio
de feijão. Porém as contas de
energia elétrica ficavam cada vez
mais altas e a produção não conseguia pagar as dívidas.
"Eles montaram as máquinas,
mas não veio nenhum técnico
mostrar como é que a gente tinha
que trabalhar. Cada um trabalhou
como sabia. Também não tivemos financiamento do banco, então não tinha como pagar as contas mesmo", disse João Alves da
Silva, 55, outro agricultor inscrito.
Em 1999, o Tucunduba chegou
a ser reativado, depois de seis
anos completamente parado, por
iniciativa de um empresário japonês, que iniciou o plantio de melancia. A falta de uma linha de crédito, porém, e os altos custos com
energia também causaram a falência da iniciativa. Agora, a sede
do projeto está sem luz por causa
de dívidas com a Coelce (Companhia de Eletricidade do Ceará).
Água não é problema na região.
O açude Tucunduba tem capacidade para 41,4 milhões de metros
cúbicos de água e o rio Tucunduba é perene. Ao redor, porém, o
que predomina é o semi-árido.
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