São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 2003

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AGENDA PETISTA

Avaliação é de que partido de ACM, tradicionalmente coeso, pode ser um parceiro mais confiável do que o PMDB

PT costura aliança com o PFL na Câmara

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Simultaneamente às conversas que manteve com o PMDB, o ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, negociou em segredo com o PFL. Fechou um acordo para atrair os votos de deputados pefelistas para a candidatura do petista João Paulo à presidência da Câmara dos Deputados.
Agora, Dirceu costura o apoio do PFL a projetos que o novo governo petista considera prioritários, entre eles as reformas da Previdência e tributária. Por ora, os entendimentos não escorregaram para o delicado tema da distribuição de cargos.
Informado de cada passo da movimentação de Dirceu, Lula aprovou e estimulou a estratégia. O presidente e seu articulador político compartilham da avaliação de que o PFL, tradicionalmente coeso, pode ser um parceiro legislativo mais confiável do que o PMDB, fragmentado e em permanente briga interna.
Os entendimentos de Dirceu com o PFL começaram antes mesmo do segundo turno das eleições presidenciais, em 27 de outubro passado. Braço direito de Lula, Dirceu reuniu-se sigilosamente com o senador eleito Antonio Carlos Magalhães (BA), homem forte do PFL.
Os dois foram aproximados pelo advogado Márcio Thomaz Bastos. O hoje ministro da Justiça é velho amigo de ACM. Ofereceu o seu apartamento, em São Paulo, para a realização de três encontros secretos de Dirceu com ACM.
Num deles, ACM chegou mesmo a palpitar sobre a estratégia que o PT deveria adotar, para assegurar a vitória sobre o presidenciável tucano, José Serra, no segundo turno. Analisaram-se os quadros eleitorais em casa Estado. Em dado momento das conversas, era tamanha a intimidade com Dirceu que ACM animou-se a falar na segunda pessoa do plural. Algo assim: "Nós deveríamos tomar essa ou aquela providência". Na Bahia, ACM fez declaração de voto em favor de Lula.
Depois da posse do novo presidente, houve um quarto encontro confidencial entre Dirceu e ACM. Deu-se em Brasília, na casa de Antônio Carlos Magalhães Jr., filho do morubixaba baiano. De novo, foi testemunhado por Thomaz Bastos.
Sob orientação de Dirceu, o próprio João Paulo (PT-SP) discou para ACM. O líder pefelista assegurou ao deputado petista que seu partido votará unido na candidatura dele à presidência da Câmara dos Deputados.
ACM age em combinação com o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), com quem Dirceu também deve se reunir. Nos últimos dias, ACM e Bornhausen refrearam o impulso de parte do PFL de aderir ao movimento, capitaneado pelo PSDB, para a formação de um bloco oposicionista no Congresso.
"Não devemos brigar com o resultado das urnas", pregou ACM, nas conversas com os seus pares. Ele acha que cresceram as possibilidades de entendimento com o PT a partir do instante em que Lula brecou, na fase de composição do ministério, a negociação que conduziria o PMDB ao primeiro escalão do governo.
Além de tricotar em favor da ascensão de João Paulo ao comando da Câmara, Dirceu e ACM conspiram em favor da candidatura de José Sarney (PMDB-AP), em lua-de-mel com o PT, à presidência do Senado. Desejam barrar as pretensões do principal rival de Sarney, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
Em diálogo com o presidente Lula, Sarney assegurou que não irá recuar em sua pretensão de presidir o Senado. O ex-presidente tem fama de não entrar em bola dividida. Temia-se no Planalto que o ambiente turvo em que se processam as negociações o levasse a desistir. O eventual sucesso da articulação pró-Sarney conduzirá ao enfraquecimento da ala do PMDB que apoiou o tucano José Serra durante a eleição presidencial. A suposta liderança de Michel Temer, atual presidente do PMDB, será ferida de morte.
O governo conta, na sequência, com a ajuda de governadores peemedebistas como Roberto Requião (Paraná) e, eventualmente, Luiz Henrique (Santa Catarina), para acomodar nacos expressivos do partido nas cercanias do Palácio do Planalto.



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