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AGENDA PETISTA
Avaliação é de que partido de ACM, tradicionalmente coeso, pode ser um parceiro mais confiável do que o PMDB
PT costura aliança com o PFL na Câmara
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Simultaneamente às conversas
que manteve com o PMDB, o ministro chefe da Casa Civil, José
Dirceu, negociou em segredo com
o PFL. Fechou um acordo para
atrair os votos de deputados pefelistas para a candidatura do petista João Paulo à presidência da Câmara dos Deputados.
Agora, Dirceu costura o apoio
do PFL a projetos que o novo governo petista considera prioritários, entre eles as reformas da Previdência e tributária. Por ora, os
entendimentos não escorregaram
para o delicado tema da distribuição de cargos.
Informado de cada passo da
movimentação de Dirceu, Lula
aprovou e estimulou a estratégia.
O presidente e seu articulador político compartilham da avaliação
de que o PFL, tradicionalmente
coeso, pode ser um parceiro legislativo mais confiável do que o
PMDB, fragmentado e em permanente briga interna.
Os entendimentos de Dirceu
com o PFL começaram antes
mesmo do segundo turno das
eleições presidenciais, em 27 de
outubro passado. Braço direito de
Lula, Dirceu reuniu-se sigilosamente com o senador eleito Antonio Carlos Magalhães (BA), homem forte do PFL.
Os dois foram aproximados pelo advogado Márcio Thomaz Bastos. O hoje ministro da Justiça é
velho amigo de ACM. Ofereceu o
seu apartamento, em São Paulo,
para a realização de três encontros secretos de Dirceu com ACM.
Num deles, ACM chegou mesmo a palpitar sobre a estratégia
que o PT deveria adotar, para assegurar a vitória sobre o presidenciável tucano, José Serra, no segundo turno. Analisaram-se os
quadros eleitorais em casa Estado. Em dado momento das conversas, era tamanha a intimidade
com Dirceu que ACM animou-se
a falar na segunda pessoa do plural. Algo assim: "Nós deveríamos
tomar essa ou aquela providência". Na Bahia, ACM fez declaração de voto em favor de Lula.
Depois da posse do novo presidente, houve um quarto encontro
confidencial entre Dirceu e ACM.
Deu-se em Brasília, na casa de
Antônio Carlos Magalhães Jr., filho do morubixaba baiano. De
novo, foi testemunhado por Thomaz Bastos.
Sob orientação de Dirceu, o
próprio João Paulo (PT-SP) discou para ACM. O líder pefelista
assegurou ao deputado petista
que seu partido votará unido na
candidatura dele à presidência da
Câmara dos Deputados.
ACM age em combinação com
o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), com quem
Dirceu também deve se reunir.
Nos últimos dias, ACM e Bornhausen refrearam o impulso de
parte do PFL de aderir ao movimento, capitaneado pelo PSDB,
para a formação de um bloco
oposicionista no Congresso.
"Não devemos brigar com o resultado das urnas", pregou ACM,
nas conversas com os seus pares.
Ele acha que cresceram as possibilidades de entendimento com o
PT a partir do instante em que Lula brecou, na fase de composição
do ministério, a negociação que
conduziria o PMDB ao primeiro
escalão do governo.
Além de tricotar em favor da ascensão de João Paulo ao comando
da Câmara, Dirceu e ACM conspiram em favor da candidatura de
José Sarney (PMDB-AP), em lua-de-mel com o PT, à presidência
do Senado. Desejam barrar as
pretensões do principal rival de
Sarney, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
Em diálogo com o presidente
Lula, Sarney assegurou que não
irá recuar em sua pretensão de
presidir o Senado. O ex-presidente tem fama de não entrar em bola
dividida. Temia-se no Planalto
que o ambiente turvo em que se
processam as negociações o levasse a desistir. O eventual sucesso da
articulação pró-Sarney conduzirá
ao enfraquecimento da ala do
PMDB que apoiou o tucano José
Serra durante a eleição presidencial. A suposta liderança de Michel Temer, atual presidente do
PMDB, será ferida de morte.
O governo conta, na sequência,
com a ajuda de governadores peemedebistas como Roberto Requião (Paraná) e, eventualmente,
Luiz Henrique (Santa Catarina),
para acomodar nacos expressivos
do partido nas cercanias do Palácio do Planalto.
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