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GOVERNO LULA
Dirceu pede a equipe que fale menos e estude propostas antes de divulgá-las
Após gafes, governo decide impor "mordaça" ministerial
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar do pouco tempo de governo, auxiliares do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva já mapeiam o que chamam de pontos
falhos na formação do ministério:
sobreposição de funções, com
pastas atuando nas mesmas áreas,
e ministros demonstrando pouca
intimidade com seus assuntos.
Na avaliação dos auxiliares, as
boas notícias na economia (queda
do dólar e do risco Brasil) e o estilo popular de Lula (que abraça e
tira fotos com fãs, além do jeito
informal com os ministros) dividiram espaço na mídia com as
trapalhadas oficiais e conseguiram transmitir a impressão geral
de um bom início de governo.
A Folha apurou que o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, já
pediu a alguns ministros que procurem falar menos e estudar bem
uma proposta antes de divulgá-la.
Ele deseja evitar novas trapalhadas. Julga que algumas aconteceram porque o PT está aprendendo a ser governo.
O chefe da Casa Civil teve de arbitrar até disputa por espaço físico na Esplanada dos Ministérios a
fim de evitar atritos.
Um dos homens fortes do novo
governo, o secretário de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken,
também andou advertindo colegas para que pensem antes de falar. Além de controlar a publicidade federal, Gushiken é amigo
antigo de Lula. Com fama de zen,
é um dos principais conselheiros
presidenciais e um dos poucos
com liberdade para criticar Lula e
seu governo com dureza.
Os ministros "campeões" de gafes, na avaliação de assessores de
Lula, foram Anderson Adauto
(Transportes), que teria mostrado
desconhecimento de sua pasta ao
anunciar a suspensão de licitações
no valor de R$ 5 bilhões quando a
cifra não chegava a R$ 1 bilhão, e
Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia), que gerou desconforto
internacional pela admissão depois negada de que o Brasil deveria dominar a tecnologia para
bombas nucleares.
Em audiência, Adauto chegou a
ouvir de Lula recomendação para
ser mais cauteloso. O presidente
tem dito aos seus ministros que
eles serão cobrados por tudo o
que disserem.
Outra idéia de Adauto já está
sendo tecnicamente criticada no
governo. Ele pediu ajuda do Exército para construção e recuperação de estradas.
No entanto, os militares têm
poucas equipes, se for levada em
conta a demanda da área. Na
comparação com o equipamento
das empreiteiras do setor, os militares possuem maquinário obsoleto e demorarão mais tempo para executar o mesmo serviço.
Grosso modo, dizem técnicos
do Ministério dos Transportes, o
serviço feito pelo Exército, no final das contas, poderá sair mais
caro. Ou seja, do ponto de vista
gerencial, seria um mau negócio
para o governo.
Caças da FAB
O próprio Lula, porém, tomou
uma decisão que depois se mostrou tecnicamente equivocada, a
de suspender a compra de caças
novos para a FAB (Força Área
Brasileira).
O argumento principal de Lula e
sua equipe é que não pegaria bem
o governo ir às compras no primeiro ano de gestão, no qual a
prioridade é o combate à fome. O
governo disse ainda que usaria os
US$ 700 milhões para a compra
de caças no Fome Zero.
Detalhe: isso não pode ser feito.
O consórcio internacional já tem
financiador arranjado e os pagamentos do Brasil só começariam a
ser feitos a partir de 2007. A Embraer, empresa que Lula disse na
campanha que teria prioridade
nas vendas ao governo, viu suas
ações caírem.
Espaço físico
A principal prioridade social do
governo, o Fome Zero, também
tem tido dificuldade para sair do
papel. Além do atraso na definição do seu formato final, o ministro do Combate à Fome e da Segurança Alimentar, José Graziano,
teve de enfrentar a resistência da
ministra da Assistência e da Promoção Social, Benedita da Silva,
em dividir parte de seu espaço físico com ele.
Ela não queria abrir mão de um
andar inteiro num dos prédios da
Esplanada dos Ministérios.
Dirceu entrou em ação e deu a
Graziano, no final da semana, o
andar necessário para a equipe do
projeto poder trabalhar.
Graziano ainda terá uma sala no
Palácio do Planalto. Com menos
de 20 cargos de confiança, deverá
ter o número de funcionários da
pasta ampliado na proporção do
tamanho da tarefa.
A sobreposição de funções no
caso de Graziano e Benedita foi
proposital, segundo um ministro
de Lula, devido à importância que
o presidente Lula quer dar ao
combate à fome.
Mas outros casos de sobreposição chamaram a atenção dos auxiliares de Lula, que teria exagerado na criação de tantos ministérios e secretarias (36 no total).
Exemplo: o secretário do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Tarso Genro, fará reuniões com setores da sociedade. O secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, cuida da articulação política, função do cargo
no governo passado. No entanto,
o conciliador Dulci também se
dedicará à relação entre governo e
sociedade.
Genro também atuará na área
do ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, já que coordenará
as discussões sobre a reforma da
Previdência.
Esse é o primeiro passo do conselho, o embrião do chamado
pacto social proposto por Lula
durante a campanha.
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