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NO PLANALTO
Escândalo da Sudam 2- o retorno, com escala em São Paulo
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Há males que vêm para
pior. A Sudam é um deles. A maleabilidade ética do tucanato acomodou a tina dos incentivos fiscais no colo do
PMDB. Quando a vasilha transbordava água suja, FHC rebatizou-a de Agência de Desenvolvimento da Amazônia. Vendeu
a idéia de que legaria água potável ao sucessor. Trololó.
A lama passada continua movendo os moinhos da corrupção.
Nenhum centavo dos mais de
R$ 2 bilhões malversados voltou
à bolsa da viúva. Pior: vêm aí
novas subtrações.
A Sudam é um filme sem fim.
O bandido da fita não morreu.
E está virando mocinho. Há nos
escaninhos da velha autarquia
541 projetos sobreviventes. Empreendimentos honestos misturam-se a negócios fraudulentos.
Brasília ainda não logrou separar lé de cré.
Para dar ao contribuinte desavisado uma idéia do que se
passa, mencione-se, por eloquente, o exemplo de projeto
chamado Frango Norte. Pescou
na Sudam R$ 20 milhões. Seguindo o rastro do dinheiro, o
Ministério Público e o fisco descobriram que a grana foi "integralmente" desviada.
Embora a investigação tenha
começado em 1998, só na semana passada foi possível ajuizar
ação contra o criatório de frangos. Mais ágil, a Frangonorte
obteve na Justiça uma sentença
que obriga a Sudam a lhe entregar novos R$ 16,4 milhões (principal mais juros).
Tenta-se agora converter o
crédito de moeda sonante em
precatórios, papéis que postergariam o desembolso. Ganhando tempo e apostando na sorte,
o Ministério Público tentaria
condenar os gestores da Frango
Norte por improbidade administrativa antes que o erário sofresse o novo golpe.
Chama-se Vicente Pedrosa da
Silva o responsável pela Frangonorte. É velho conhecido da viúva. Belisca o Tesouro desde 1988.
Naquele ano, vendeu ao Ministério da Reforma Agrária, então
chefiado por Jader Barbalho,
uma propriedade fantasma.
A fazenda, sugestivamente
chamada de Paraíso, rendeu-lhe 55.221 Títulos da Dívida
Agrária. Um papelório que, a
preços de hoje, valeria mais de
R$ 5 milhões. A operação rendeu também a Vicente, no ano
passado, uma condenação judicial em primeira instância.
Em 1990, o mesmo Vicente Pedrosa obteve do bom e velho
BNDES empréstimo de Cr$
157.053.206,60 -mais de R$ 3
milhões em dinheiro de hoje.
Ofereceu em hipoteca a mesma
inexistente Fazenda Paraíso
que vendera dois anos antes ao
governo. O BNDES tenta até hoje receber o empréstimo.
Servindo-se de bons advogados, Vicente defende-se como
pode. Nega as acusações. No caso da Sudam sua palavra jaz sobre um monturo de papéis malcheirosos. São documentos falsos, contratos glaciais, notas
frias, o diabo. Na ponta do lápis,
a papelada inidônea soma U$
22 milhões.
Quebrou-se o sigilo bancário
da Frango Norte. O rastreamento dos cheques revela que parte
do butim aportou nas contas de
empresas de São Paulo. Entre
elas uma gigante multinacional, já intimada a explicar-se à
Receita. Vem aí a conexão paulista do escândalo. Coisa para os
próximos meses.
Reunido na semana passada
com funcionários públicos que
se ocupam do espólio da Sudam,
Ciro Gomes, enviado de Lula ao
lodaçal, prometeu acelerar o
cancelamento de projetos micados como o da Frango Norte. É
bom que pise no acelerador. Outros gatos pardos buscam na
Justiça o dinheiro fácil do contribuinte.
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