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Governo gasta mais rápido com viagens que com saneamento
Ritmo de gastos com hotéis e passagens é mais acelerado que o dos
investimentos como obras de saneamento e recuperação de estradas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A poucos dias de o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva dar início ao que chama de governo itinerante, pesquisa no Siafi (sistema informatizado de acompanhamento de gastos federais)
mostra que o ritmo de gastos com
passagens e diárias já é bem mais
acelerado do que com os investimentos públicos, como obras de
saneamento e recuperação de estradas, que ainda não saíram da
estaca zero.
No Ministério da Justiça, por
exemplo, enquanto nenhum centavo foi gasto na intensificação do
policiamento em áreas críticas, e o
dinheiro disponível no Fundo
Nacional de Segurança Pública
para esse programa ficou congelado, foram gastos R$ 6,8 milhões
com deslocamento de funcionários e pagamento de hospedagem.
O Ministério da Justiça é o terceiro na lista dos que mais gastaram na Esplanada com diárias e
passagens, logo atrás das pastas
da Saúde e da Defesa.
A Presidência registra gastos de
R$ 3,1 milhões até 28 de março.
Aparece em oitavo lugar no ranking. O valor é quase o mesmo
gasto no período com o pagamento de bolsas de R$ 65 para 105
mil jovens do programa Agente
Jovem, do Ministério da Assistência e Promoção Social.
O Orçamento da União não estabelece limite de gastos com viagens, há apenas um limite para as
despesas com a manutenção da
máquina. Mas a maioria dos ministérios baixou portarias no início do ano para que despesas nessa área fossem contidas.
O ministro Guido Mantega
(Planejamento) criou até dois
grupos de trabalho e deu a eles a
tarefa de encontrar meios de reduzir os gastos de custeio. Passagens e diárias seriam os principais
alvos, junto com licenças de programas de computador, já que o
governo não tem como reduzir
outros gastos, como o pagamento
de pensões e aposentadorias da
Previdência e de benefícios sociais. Os grupos estudam medidas
como a conversão das dívidas de
empresas aéreas e até a volta de
uma tarifa especial para o governo, além do estímulo à compra
antecipada, a preços menores.
O dinheiro economizado seria
usado para amenizar o bloqueio
de gastos em investimentos, fixado em 72% do que foi autorizado
para 2003. O corte é consequência
da meta acertada com o FMI de
economia de 4,25% do PIB para
pagar juros da dívida.
Posta em prática, a teoria deveria ter feito com que o ministro da
Educação, Cristovam Buarque,
pensasse duas vezes antes de ir à
Espanha na semana passada, onde o principal compromisso era o
encontro com o jogador Ronaldo.
O atleta nem foi ao encontro, que
deveria acertar a participação dele
na campanha de combate ao analfabetismo entre jovens. O gasto da
viagem não cobriria os R$ 110 milhões previstos para o Toda
Criança na Escola, um dos programas paralisados, mas poderia
ajudar a tirá-lo do papel.
Um dia útil antes de Lula completar três meses de mandato, os
gastos de custeio alcançaram
17,52% (R$ 39 bilhões) do que o
Orçamento autorizou para o ano.
Os investimentos foram nulos em
transportes, saneamento e organização agrária. Somaram 0,18%
(R$ 26 milhões) dos gastos para
2003.
(MARTA SALOMON)
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