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CULTURA E BARBÁRIE
Catedral e Teatro Municipal são exemplos de obras na capital que estão em estado deplorável de conservação
Cartões-postais de Brasília estão abandonados
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os principais cartões-postais da
cidade de Brasília, como a catedral e o Teatro Municipal, encontram-se em um estado deplorável
de conservação.
Na semana passada, a Folha visitou importantes marcos da arquitetura moderna brasileira e
acervos de arte públicos e privados. Encontrou o resultado do
descaso das autoridades públicas,
da escassez de recursos e da falta
de consciência de usuários e donos de obras com o patrimônio
cultural nacional.
A catedral, um dos pontos turísticos mais visitados da capital, está com sua cobertura, um vitral
composto por 16 painéis de fibra
de vibro, totalmente avariada. É
impossível encontrar um painel
que não esteja estilhaçado.
A igreja, que pertence a Arquidiocese de Brasília, foi projetada
por Oscar Niemeyer, em 1957. Os
vitrais, a pedido do arquiteto, foram encomendados a Marianne
Peretti, artista plástica francesa,
que veio para o Brasil em 1956.
Restaurar o vitral custará R$ 3
milhões, segundo o monsenhor
Marcony Vinicius, responsável
pela catedral. "Nós não temos o
dinheiro", diz o padre.
O prédio é uma das três obras
individualmente tombadas, em
Brasília, pela Unesco (braço das
Nações Unidas para a educação e
a cultura), como patrimônio da
humanidade.
Di Cavalcanti
Na nave central da catedral de
Brasília, mais um exemplo do
descuido. Na parede de mármore
da loja no interior da igreja há 15
quadros de Di Cavalcanti (1897-1976) que contam os passos da
Paixão de Cristo. Todos precisam
de restaurações. As cores desbotaram e, mais grave, em vários trechos não há mais vestígio das pinceladas de um dos mais valorizados artistas do Brasil -é possível
ver a trama da tela.
Do outro lado da Esplanada dos
Ministérios, em frente à catedral,
fica o Teatro Nacional, outro projeto de Niemeyer. A fachada principal, um alto relevo de cubos assimétricos de metais, é de Athos
Bulcão. Ele apelidou sua obra favorita de "o sol faz festa". Turistas
escalam os cubos. A falta de conservação também provocou ferrugens, que escorrem e mancham
a parede do teatro.
"A aparência dá margem a especulações maiores. Não há risco
de degradação", diz o secretário
de Cultura do Distrito Federal,
Pedro Borio. Segundo ele, o projeto para a restauração do teatro,
que incluirá obras estruturais, está pronto para ser iniciado.
"O governo do Distrito Federal
está muito atento a essa questão.
Estamos estudando todos os aspectos e as providências que podem ser tomadas", diz o secretário, sobre as demais obras da capital que precisam de cuidados.
Cartão rasurado
Nem o cartão de visita para chefes de Estado e autoridades estrangeiras que visitam o Brasil é
exceção. O símbolo do Ministério
das Relações Exteriores, a escultura "O Meteoro", em mármore, de
Bruno Giorgi (1905-1993), que orna a frente do palácio precisa de
reparos urgentes.
A treliça de Athos Bulcão, pano
de fundo dos pronunciamentos
conjuntos do presidente com seus
pares estrangeiros, também precisa de uma restauração. O Itamaraty diz que identificou os problemas e iniciou o processo para fazer as intervenções necessárias.
Das quase dez obras visitadas
pela Folha, apenas duas estão em
bom estado: o Memorial JK e a
Praça dos Três Poderes. As demais se enquadram no desabafo
do superintendente regional de
Brasília do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Cláudio Queiroz: "As
obras extraordinárias de Brasília
não estão sendo mantidas, quem
dirá conservadas".
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