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ELEIÇÕES 2004
Secretário da Segurança inicia campanha tucana com ataques e afasta consenso em torno de candidatura
Fã de Sérgio Motta, tucano quer "ir pra cima"
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
RICARDO BRANDT
DA REPORTAGEM LOCAL
Com um cigarro Minister em
uma das mãos e um revólver de titânio na outra, Saulo de Castro
Abreu Filho faz piada com um
policial ao seu lado: "Essa é modelo feminino", referindo-se ao fato
de a arma ser mais leve que as tradicionais, feitas de aço.
Saulo, 42, é secretário da Segurança Pública e provável candidato do PSDB à Prefeitura de São
Paulo. A frase, em tom de brincadeira, foi dita anteontem de manhã em uma reunião do tucano
com policiais portugueses que a
Folha acompanhou.
As chances do secretário na disputa interna do PSDB estão calcadas no respaldo que ele tem do
governador tucano Geraldo Alckmin, um dos principais entusiastas de sua candidatura à sucessão
da petista Marta Suplicy, lançada
à reeleição ainda em 2003.
Dono de um estilo que ele mesmo, em conversas reservadas com
os mais próximos, chama de
"agressivo", o secretário, nos últimos dias, em tom notadamente
eleitoral, criticou a administração
da prefeita Marta e o governo Luiz
Inácio Lula da Silva.
"Vou para cima", costuma dizer
o secretário. Em seu gabinete, no
centro da cidade, um dos livros
que guarda é a biografia do ex-ministro das Comunicações Sérgio
Motta, morto em 1998, apelidado
pelos colegas de partido de "trator
do PSDB", graças ao estilo arrojado com que fazia política.
Mas a reação imediata aos primeiros movimentos de ataque de
Saulo não veio apenas do PT, que
divulgou uma nota em repúdio às
acusações de que "PM governa a
cidade de São Paulo".
Líderes tucanos ouvidos pela
Folha criticaram a estratégia de
Saulo por entenderem que ele
tenta usar o bom trânsito que tem
com Alckmin para impor seu nome dentro do partido. Decidiram
também aumentar a pressão em
favor das prévias.
Além do secretário, outros três
tucanos pleiteiam o direito de disputar a eleição: os deputados federais Walter Feldman e Zulaiê
Cobra e o ex-presidente nacional
do partido José Aníbal.
O ex-senador José Serra, hoje
presidente do PSDB, também é
um dos nomes cotados, mas tem
dito que não quer a indicação. Se
decidir disputar, será consenso.
Outra resistência a Saulo dentro
do PSDB diz respeito à postura do
tucano na secretaria. Ele é considerado "linha-dura" por setores
históricos, afinados com os discursos em defesa dos direitos humanos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador Mário Covas (1930-2001).
Na pasta, o secretário comandou o episódio conhecido como
"Castelinho", quando, em março
de 2002, 12 criminosos foram
mortos em confronto com a PM.
Ele nega irregularidade no caso e
disse que havia assumido o cargo
a menos de um mês.
Entre os tucanos, por exemplo,
circula a piada de que o slogan do
futuro candidato para este ano já
está pronto: "São Paulo é Saulo
porque Saulo é trabalhador", em
uma alusão ao tema de campanhas anteriores de Paulo Maluf.
Sem histórico partidário -Saulo se filiou ao PSDB em outubro
do ano passado- e sem base entre os militantes, o secretário tornou a unidade que o PSDB busca
para definir seu pré-candidato a
prefeito ainda mais distante depois que se lançou publicamente à
disputa no início deste mês.
O presidente municipal do
PSDB, Edson Aparecido, não comenta as pré-candidaturas e diz
que o partido chegará a um consenso, mas admite que, se o candidato tivesse que ser escolhido
hoje, ocorreriam prévias. "Por isso, vamos iniciar reuniões regionais para debater o tema", disse.
O apoio à candidatura Saulo está principalmente no governo do
Estado, onde ele passou pelos segundo e primeiro escalões. Em
torno de seu nome, trabalham integrantes do chamado grupo "covista", ligado à herança política de
Covas, como o presidente da Sabesp, Dalmo Nogueira Filho, e tucanos hoje mais próximos a Alckmin, como o secretário de Governo, Arnaldo Madeira.
O secretário dos Transportes do
Estado, Dario Rais Lopes, por
exemplo, classifica Abreu Filho
como uma pessoa com vocação
natural para lidar com situações
complexas, como a segurança pública. "Isso já o qualifica para assumir uma gestão complexa como a de São Paulo", disse.
A "alternativa Saulo" como candidato surgiu no governo no início do ano passado, após Alckmin
ter avaliado que ele foi decisivo
para sua reeleição.
A área da segurança pública era
o "calcanhar de Aquiles" do governador, desgastado pelo seqüestro seguido de morte do prefeito de Santo André Celso Daniel,
em janeiro de 2002.
Saulo assumiu a pasta em janeiro daquele ano. Desde então, na
avaliação de Alckmin, o setor,
apesar de ainda problemático,
vem demonstrando bons resultados. O governador também diz
que "um nome novo, de perfil
executivo", seria uma boa alternativa para os tucanos.
Enquanto aguarda a definição
partidária, prometida para o próximo mês, o secretário segue sua
rotina à frente da pasta e visita diretórios zonais do PSDB, em uma
tentativa de preencher a lacuna
que tem na base do partido. Ao
pedir apoios, deixa claro o tom
personalista: "é um desafio pessoal governar a cidade".
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